História de Crente: Surpresas no Congresso

por Zé Luís

Foi em um congresso regional de diáconos em São Bernardo do Campo que aconteceu.
Bem cedo, no domingo, ônibus fretados congestionavam a estreita rua daquele bairro de periferia, afim de desembarcar dezenas de irmãos que exerciam essa função em suas igrejas.

Logo no inicio, percebia-se certa movimentação entre os diáconos da igreja onde seria sediado o evento: dois jovens rapazes, aparentemente indigentes, insistiam em ficar sentados, enrolados em seus cobertores, nas proximidades da entrada da igreja. O corpo diaconal tentava removê-los de diversas formas, tentando minimizar o constrangimento diante dos que chegavam: uns oravam, outros repreendiam o demônio, enquanto gritavam em repulsa ao diabo que escolhera enviar seus agentes bem naquele importante dia.

Já dentro da nave do templo, ficou-se sabendo que a muito custo, conseguiram afastar os garotos, chamados de “nóias”, molhando abundantemente o chão onde queriam deitar.

Esse congressos são sempre muito bem organizados, cheios de pompa, cronologicamente marcados: momento da oração, momento das músicas, momentos das homenagens, momento dos estudos. Tudo sincronizado. Naquele ano, havia uma novidade: fora incluso na programação uma peça teatral.

O pastor da igreja que trouxe a peça parecia angustiado quando foi a frente e anunciou o início da apresentação.

O salão da igreja era estreito, mas bem comprido, e lá de trás, os atores iam entrando: cada personagem trazia em suas costas um grande saco de pano, representando seu fardo, e clamavam, até chegar a frente, no palanque onde fica o púlpito, procurando por uma igreja que fosse capaz de aliviar seu fardo. Procuravam a igreja que os aliviasse, mas nada encontravam ao chegar no palco. Entre personagens haviam a prostituta, o homossexual, o viciado em drogas, o adúltero, a adolescente abandonada por engravidar.

Foi quando, para alerta geral dos diáconos daquela igreja, os dois teimosos indigentes entram pelas portas, maltrapilhos, abraçados e chorando muito, clamando em alta voz, como fantasmas que se arrastam em suas correntes. Os diáconos, em um descuido, não os viram entrar:
“Quem é capaz de nos ajudar? Quem será capaz de se importar conosco? Onde deixamos nosso fardo?”
“Tá amarrado!” - gritou uma das irmãs, confortavelmente sentada, no que ele respondeu:
“Tá amarrado, irmã? Você pensa que sou demônio? Vocês se acham preparados para cuidar dos enfermos? Jogaram água no chão para a gente não tivesse onde sentar lá na rua...”

E choravam. Choravam com uma tristeza que eu, que estive lá naquele dia, compartilhei.

Senti-a, pela vergonha de saber o que poderia ser feito, mas não fiz. Chorei por ter que admitir que toda aquela pompa e cordialidade, para momentos onde o Cristo nos preparou, foi denunciado na manhã ensolarada daquele domingo. Estava desconfortavelmente mexido.

Os dois “nóias” eram atores, jovens cristãos da igreja daquele pastor angustiado: naquele dia, muitos se sentiram expostos, e ele ganhou veladamente, antipatias e inimigos. Ele sabia que esse seria o preço a pagar por ter permitido aquela apresentação. E fez o que muitos não querem: pagou o preço.

Hoje, alguns anos depois, de todos os congressos e seminários que pude participar, esse é um dos poucos que ainda assalta minha memória, me levando às lágrimas, redirecionando meu curso de vida, deixando claro o quanto os iludimojavascript:void(0)s em nossa visão de cristianismo e Reino. Não me lembro dos nomes dos atores nem daquele pastor, mas agradeço a Deus pela vida deles e o chacoalho que me proporcionaram.

Comentários

  1. olha, fiquei sem folego!

    Que noção besta de diaconia que temos!!
    Falei besta de proposito, pois nada de Cristo tem, mas sim de anticristo.
    Corri disto e quero viver o evangelho real.
    Peço permissão para postar este texto no meu blog, pois é pertinente aos assuntos que tenho tratado lá

    abraço

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  2. Olá.

    Nem precisa pedir permissão. Seria uma honra!:)

    Só solicito que mantenha um link, informando de onde copiou, ok?

    Grato pela visita.

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  3. Primeiramente quero te parábenizar pelo blog!

    Esse relato, nos mostra como nós cristãos falhamos na questão do julgo,temos a facilidade em julgar uma pessoa pela aparência, pelas suas vestis ou até mesmo por uma atitude errada que a pessoa tenha cometido. E também a questão da irmã ter repreendido “Tá amarrado!”, mostra quantas pessoas estão na Igreja , gritando, repreendendo para mostras que é Cristão, mas na minha opinião: mostram ser pessoas sem a sabedoria ,ou seja, aquela que só Deus pode nos dar.

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  4. Nossa, isso realmente aconteceu?
    Deve ter sido emocionante!

    Tenho certeza de que rendeu os frutos devidos.

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  5. Nossa, Zé... acho que assim como você, muita gente deve ter ficado "sem chão" quando soube dos atores, hein? Admiro esse pastor e sua trupe. Precisamos de mais gente assim, disposta a pagar o preço por uma vida em verdade e em justiça a favor do Reino.

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  6. OLÁ, ISSO REALMENTE É LAMENTÁVEL...
    Embora deva admitir que muitas outras histórias como esta ainda acontecem...
    Uma vez fui visitar com minha igreja uma navio tipo biblioteca não me recordo mais acho que o nome do navio era Doulos ou algo parecido.
    Minha mãe uma gentil serva de Deus Generosa ao estremo cedeu pra variar meu lugar no ônibus fretado para uma senhorita e eu com os meus 11 anos bem magrinha acabei embarcada sem muita vontade em um lugarzinho bem pequenininho no carro de um irmão...
    Muito legal muito bonito Só encontrei mamãe lá mais uma vez sendo a boa samaritana, alimentando sua convidada na lanchonete do local...
    Acabou o passeio e a vida continua...
    Chegamos ma igreja Batista da qual éramos membros muito antes do fretado...
    Eu e uma amiguinha... que também muito pequenina coube sei lá, acho que no porta malas!
    Como o fretada não chegava tentamos comer algo na igreja já que não tínhamos dinheiro.
    Bom ai vem a melhor parte!!!
    Uma senhora da ilustríssima sociedade de senhoras estava na cantina da respeitável congregação. Minha amiga com muita ousadia e coragem resolveu pedir algo pra que comecemos.
    A Sra. Irmã em cristo,
    disse a minha amiga que para ela, poderia arranjar algo pra comer mas para a outra sua amiga não! (Detalhe minha mãe não podia frequentar a sociedade das senhoras pois tinha que trabalhar muitos domingos em sua profissão de enfermagem)
    Lembro me de ver minha amiga triste voltar como quem vem da morte ou de um lamentável dialogo com a morte opa, a morta de fome.
    Não tem nada...
    Bom isso foi minha primeira grande decepção e também minha grande descoberta:

    Nem só de pão vive o homem...

    Não apenas fora, mais dentro das igrejas existem muitos, muitos miseráveis.

    Ahhhhhhhhh detalhe a senhora em questão foi incomodada pelo Senhor... e teve um pouco de compaixão...
    Mandou pedaços de pães que sobrou do ensaio do Coral que foi realizado um dia antes!!!.

    Muita misericordia...

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