Quando discernir a Voz que nos fala ao íntimo?

por Zé Luís


"Foi o Espírito que tocou o coração daquele pastor para tomar a decisão..." – era a temática da conversa que ouvia da Cris de manhã, em direção ao trabalho. Ouviu em um culto para meia duzia de ouvintes, no intervalo do almoço de um dia de trabalho.

O jovem ministro contava sobre uma coisa terrível que teria que fazer: dar um beijo no pai, ao se despedir, conforme suas orações faziam desejar. O problema é que o pai era um daqueles ogros bem ignorantes, que em tudo via sinais de homossexualidade, e na homossexualidade, um crime contra humanidade punível com pena capital. Para agravar, aquele homem adulto e hétero, como todos os irmãos, tinham uma dificuldade gigantesca em conseguir um afago do pai, mesmo quando criança.

Mas agora, no meio de uma visita rotineira aos pais, onde o pai, já idoso, permanecia sentado em sua poltrona com sua cara de pitbull, o impulso era de beijá-lo,  era nesse homem que estava impelido a dar uma bitoca.

Naquele diálogo interno, que só os que conversam com Ele conhecem, a guerra começara: “por que devo fazer isso? Ele não vai aceitar... ai, fazer um troço desses já adulto? Conheço a peça: vou ouvir poucas e boas...”

Ensaiou bem a despedida e como quem não queria nada, despediu-se do pai, com um sonoro beijo na careca do velho:
-O que é isso? Tá virando viado depois de velho? Mais essa agora... Criei um filho que se diz pastor, crente, mas é dado a boiolagem... - e por aí seguiu o discurso do pai, que fez com que o pastor ficasse profundamente triste e confundido. Saiu dali com um grande ponto de interrogação na cabeça.

O tempo passou, e numa segunda visita aos pais, de novo sentiu-se impelido a despedir-se da mesma forma, e novamente a guerra de argumentações internas. O rapaz lembrava àquela “voz com vontade involuntária” a experiência da primeira tentativa. Mesmo assim, obedeceu ao desejo e teve que ouvir as malcriações do velho pai, rígido e insensível como sempre, por uma segunda vez.

Novamente, saia com o rabo entre as pernas, e com a sensação mais forte de que ouvia seus próprios pensamentos, e não a Deus, como convictamente pressupunha.

Logicamente, houve outra visita, e nessa, aquela forte convicção - de despedir-se do pai com um beijo - não lhe assaltou, o que pareceu mais um alívio.

Era em um daqueles almoços de domingo, onde ele, o crente da casa, sentava-se a mesa com irmãos, cunhadas, sobrinhos e claro, os pais.

Após o almoço foi saindo, aproveitando a carona de um irmão, e com um aceno, despediu-se da mãe e do pai. O pai levantou o semblante pesado e o chamou:
-E meu beijo?

Confesso que não foram poucas as vezes que (des)cri que ouvia a voz de Deus, quando escolhi esse ou aquele tema para uma pregação, quando o resultado obtido após ter seguido a risca aquilo que tinha como ordem divina pareceu-me um verdadeiro desastre.

Lidar com a ingratidão, a estupidez, o interesse, a ganância, a indiferença, a ignorância e tantas outras produções do egocentrismo é capaz de gerar algo bem difícil de lidar, apenas por ter obedecido uma simples ordem do Espírito que habita em nós.

Mesmo assim, qualquer um desses que se mantiveram nessa convicção “burra” olham para o passado com uma gratidão profunda por terem obedecido, e certa vergonha por ter duvidado em algum instante.

Conheço muitos que são capazes de jurar que jamais duvidaram. Desses, eu duvido. Nós algumas vezes cumprimos a ordem, mas temos o hábito – totalmente idiota – de pensar que Deus não sabe bem o que faz, e simplesmente, igoramos a ordem, para deparar com uma imensa culpa pouco tempo depois.

Deixo o recado: valerá a pena. Tenha certeza.

Comentários

  1. Poxa que reflexão boa! Isso é veridico? Aconteceu com vc mesmo? Posso utilizar teu texto e postar em meu site, indicando vocês como autores?
    Gostei bastante, me lembrou alguns fatos que aconteceu comigo!
    Abraços e fico no aguardo da resposta!

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  2. Olá.

    Sim. O tal pastor é de uma igreja chamada Vinho Novo, no ABC Paulista.

    Fique a vontade para divulgar o escrito, se acha por bem que pode edificar alguém

    Obrigado pela visita.

    Abs.

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  3. maravilhoso e esclarecedor e emocionante e triste saber que tantas vezes deixamos de obedecer essa voz , poucos dias tive uma experiencia parecida e duvidei mas obedeci e foi gratificante . descobri o blog agora, esta sendo muito bom. Deus abençoe .

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