A purificação do templo que eu sou

por Zé Luís

Ele veio em direção a minha vida, e não era a primeira vez.

Era – e sou - templo, e era tempo de visitação da minha casa, e às portas da minha existência podia-se ouvir ao longe os gritos de júbilo dos que celebram a chegada do filho de Deus às portas de Jerusalém. Ele vinha, sentado em um jumentinho, como quem caçoa dos grandes reis em suas entradas magistrais.

Mas me mantive indiferente: assim como todos os outros que a mim vinham na expectativa absurda de encontrar vestígios do Todo-Poderoso em minha alma, também deixei que o próprio Criador viesse como o Cordeiro que é, sem me importar com o que encontraria em minhas dependências.

Irado, o menino Deus adentrou as muralhas de meu ser: ao lugar destinado à adoração e oração, concorriam fezes de todos os bois, bodes e aves que ali se vendiam para ajudar aos que sacrificavam, e claro, me dar um pouco de lucro. Ali trocavam-se moedas, e as moedas atraiam os que as amam, ladrões e saqueadores. Fez-se do Templo de Deus uma feia feirinha de bugigangas e quinquilharias religiosas e coisas relacionadas, tudo justificado como ajuda aos peregrinadores, tudo servia, de alguma forma, a algum velado interesse lucrativo pessoal.

Pessoas sérias e ansiosas, mandadas pelo próprio Deus, vinham de todos os cantos da Terra para encontrar no Templo-que-me-tornei vestígios do Sagrado, mas tudo estava encoberto por um miserável mercado de pulgas.

Disseram-me: Seu fardo é leve, e sua voz é suave. Mas o que vi naquele fatídico dia foi um Deus enraivecido, revirando minha vida, enxotando - sem pedir permissão - o lixo que encrostava minha existência, mas que dava o conforto e sustento que me mantinham. Diante de minha impotência, desfez meu lucro, destruindo meu sistema, inventado especialmente para obter algo em troca pelas dicas de acesso ao altar.

Minhas religiosidades impediam que os estrangeiros sedentos do Senhor pudessem, ao menos, ter uma mínima ideia do que, para mim, era abundante no meu primeiro amor, quando Ele se mostrou e me fez homem, gente, humano, bípede.

Nesse ponto da minha pequena e confusa história, posso ter dois finais:

Após perguntar ao que vem detonando com minha confortável vida, e ter Dele a resposta que é Àquele – o único – que faz do templo o Sagrado, escolheria:

Uma: esperar oportunidade de destruí-lo na minha vida, removê-lo de uma vez para que jamais voltasse a se intrometer nos meus negócios, para que eu permanecesse em meu próspero caminho e com as coisinhas que quisesse aplicar naqueles que me procuram em nome de Deus (e isso podem ser desde pequenas distorções que convençam de meu mérito nesse lucrativo negócio até as mais absurdas heresias em nome de meu grande e gordo ego).

Ou...

Rasgar as vestes de minha alma, caindo de joelhos, agradecido por esse Deus tão maravilhoso se dar ao trabalho de vir destruir o mal que empesteia minha vida. Ele, que tem um universo inteiro para manter nos eixos, inexplicavelmente visita o insignificante ninguém, e em um golpe de misericórdia, desfaz há tempo o que me levaria a perdição, além de desviar mais tantos por Ele enviados, que viriam a mim mas só encontraria o esterco de animais a venda.

Essa pequena porção das Escrituras citada aqui, a purificação do Templo, é uma das raras passagens existentes nos quatro Evangelhos, e isso é algo que tem de ser considerado, no mínimo, como algo urgente (Jo 2, 13/ Mt 21, 12-13/ Mc 11, 15-18/ Lc 19, 45-46) .

Na história, os fariseus e escribas, donos do templo já desprovido de Deus, valeu-se da primeira escolha, e o Cristo sangrou na cruz até sua vida o abandonar.

A História que não está na Bíblia é que, após três décadas, aquele mesmo templo – assim como toda Jerusalém - era destruído totalmente, sem que ficasse pedra sobre pedra, conforme profetizado pelo filho de Deus, que por ali andou naqueles dias.

Escolhas...

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