Seu Euclides ficou sem resposta.
Os avós de meus filhos nos convidaram para um culto doméstico.
Eu, sua filha e eles, no encontramos em seu sobrado,numa tarde chuvosa, cenário comum aqui em São Bernardo do Campo.
O casal, já na casa dos sessenta, não está nas melhores situações de saúde:
Maria se encontra acamada, após um AVC e um derrame, com dificuldades de locomoção e fala. Euclides, após recuperar-se de uma cirurgia, passa os dias de aposentadoria cuidando da esposa.
Com o velho e empenado violão, toquei dois hinos, e Elisa leu a Palavra.
Após a breve explanação, Seu Euclides, ex-diácono, antigo e afastado membro da Assembléia de Deus(não por problemas com a Igreja, mas detalhes de ordem pessoal), comenta saudoso, com sua voz sempre mansa:
Na minha época, quando solteiro, costumava buscar a presença de Deus de forma compulsiva. Jejuava e orava por horas, e algumas vezes, dias. Tudo para que, nos cultos mais avivados, quando em vez, acontecer manifestações sobrenaturais. Era nítido que o Senhor tinha uma forma diferenciada para falar com esse ou aquele irmão... eu mesmo – continuou ele – sentia um desejo em minha alma de falar sobre coisas que borbulhavam em meu espirito, e que queria crer ser da parte de Deus... mas existia temor entre eu e meus irmãos de consagração. Pensava eu: “e se não for da parte de Jesus? Se for “mininice” minha?”
Após silenciosa pausa, ele pergunta:
Por que as igrejas hoje conseguem que o Senhor se manifeste com tanta facilidade? Me consagrava tanto para conseguir isso, e agora Deus opina sobre tantas coisas, ao me ver, banais. - nova pausa – Entenda: Não quero criticar nada. Só me responda. Deus realmente fala ao coração destes homens desta forma cotidiana? Digo: estes homens que não se consagram, estes com intenções dúbias, pessoais, que não interessam ao Reino? Deus mudou de lado?
Nada respondi naquele dia.
Tento ser prudente, e não afastar mais ainda quem já anda distante do convívio dos irmãos.
Mas para que redil trarei esta ovelha afastada?
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