Compaixão



Consta no livro “O Evangelho Maltrapilho”, de Brennan Manning, dinâmica feita em sala de aula de uma faculdade americana. A professora, aproveitando a fase do ano onde todos já se conheciam bem, propôs uma rápida pesquisa, perguntando ao grupo quem era fumante, ex-fumante ou nunca fumou, pedindo a opinião de cada um dos três sub-grupos formados sobre o tabagismo.
Os que nunca fumaram eram os mais duros em suas opiniões, ainda mais quando eram maioria. As opiniões destes eram na maioria de repugnância ao fumo, e as vezes, o mesmo desprezo era lançado ao fumante. Alguns chegaram a associar o fumo a pobreza de alma.
A mulher do autor, que fazia parte do hall dos tabagistas naquela sala, não tinha a menor idéia de como as pessoas que conviviam a sua volta a desprezavam de forma tão pungente.
      - Não fazia idéia de quanto era odiada... - comentava.
O mesmo desprezo não acontecia da parte dos ex-fumantes. Certamente, sabiam bem o que era o vício e as dificuldades de possuí-lo.

Logicamente não defendo a idéia de que devamos pecar todos os pecados para entender todos os pecadores, e justificar o versículo Paulino de que “onde abundou o pecado, superabundou a Graça”.

Ex-fumantes entendem melhor o que é ser fumante.
Um ex-pecador precisa pesar melhor a miséria humana que ainda vive o que peca, mas as vezes alguns parecem que nunca cometeram – e ainda cometem - tais delitos.
Quando falo em ex-pecador, não digo sobre alguém de não peca: este não existe nesta terra, mas me refiro a pessoas conscientes de sua condição miserável: Um ex-mentiroso pode voltar a mentir, mas ele não é tido como praticante da mentira, embora entenda o poder que a mentira tem sobre as vidas...

Certa vez, num destes “chás beneficentes” oferecidos na igreja onde congrego, vi uma heróica pregadora dando seu sermão como o músico com seu solo perfeito tocado num bar lotado de casais embriagados.
Naquele dia, eu ouvia.
Ela falava sobre compaixão, e explicava: paixão é dor, compadecer era sentir a dor alheia.
Isso é tudo que lembro de um sermão de doze anos atrás, mas toda vez que começo, dentro da alma, a lutar contra a vileza alheia que reside até entre os que professam a fé que liberta, lembro que me falta traduzir a dor alheia, ou pelo menos entender a força de seu apelo.

Claro, agradeço ao Pai, pois muitas dores me faltam e naturalmente, não as desejo e ainda oro para que não as tenha. O que não posso é julgar, pois a miséria humana está logo ali, acessível, a um “click” de distância, em segundos de vacilo em uma resposta positiva, quando deveria não ser, em uma teimosia incompreensível de sermos o dono da razão a todo custo.

A encarnação de Deus ilustra isso na pessoa do Cristo: Não houve nele pecado, mas Ele se compadeceu dos homens, entendeu nossa miséria e mais que isso, deu-nos absolvição. O mérito é todo Dele.

Um abraço

Zé Luís

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