Caminhos Incompreensíveis(2)

Após Deus ter dado os impérios da terra antiga para um escolhido pagão, decide se apresentar para este.
O próspero escolhido tem tudo que a existência daquela realidade pode oferecer. Certamente não tem os recursos tecnológicos de nossa época, já que falamos de alguém que viveu a séculos antes de Cristo, numa cultura totalmente diferente da nossa.
Fez de sua nação poderosa entre todas, temido por todos os povos, inclusive pelo povo que o próprio Deus formara.

O Criador não faz nada sem antes avisar, e em um simples sonho - coisa que Nabucodonor (esse era seu nome) acreditava. Também havia quem traduzisse sonhos de Deus em sua corte, e este tradutor, um legítimo servo do Criador, descendente daquele povo (o que Jeová formou).
O orgulho do imperador será sua ruína – aponta a tradução do sonho.
Um ano se passa, a queda de Nabucodonosor acontece. Ao confessar suas intenções de assumir a glória que não lhe pertencia, torna-se bicho.
O grande estrategista de guerras, vencedor de batalhas, conquistador de nações, passa agora seus dias pastando pelas pradarias de seus suspensos jardins babilônicos.
O temido rei não passa agora de um doente insano. O orgulho nacional e símbolo de triunfo patriótico rosna e morde como o mais comum dos animais.
Fácil é acusar Deus de ser intolerante, ou mesmo conclamar a população a uma consagração religiosa em prol de seu amado líder para que o Senhor retirasse sua pesada mão.
Mas a história acaba sete anos depois, com a incompreensíve gratidão de Nabucodonosor com o destino que lhe abatera. Havia propósito naquilo tudo.

As vezes sou tentado a tomar atitudes drásticas contra pessoas que me aborrecem, mas lembro que a minha capacidade de tomar atitudes drásticas estão diretamente ligadas à capacidade vinda dos céus, por decreto.
Dar um basta a tudo que me aborrece, já que hoje tenho condições melhores, não me parece ainda uma decisão sabia, quando sou escravo de um Deus que pode usufruir desta Sua autoridade quando bem lhe convém, e isso pode ser no meio de minha injustiça.
“O mundo dá voltas” - diz o ditame popular, mas não para quando tudo está conveniente bem para mim.
“O mundo dá voltas, e jaz no maligno...” - poderíamos completar. “...mas mesmo esse está a mercê da Vontade Divina.”

Nabucodonosor reconhece a soberania de Deus e dá testemunho da mesma, sentindo-se abençoado por vislumbrar isso em sua alma, apesar de ser vítima da insanidade por anos. Isso foi registrado, e chegou a nós, pelo tempo e distância da História, mesmo a dois mil e quatrocentos anos, na sociedade do então conhecido Iraque.
Não foi na prosperidade e sucesso que o rei reconheceu Sua soberania. Foi longe das bajulações e “tapinhas nas costas” que pode achar, entre tantas crenças e estátuas, o real Criador e Escritor de tudo. Nem de equilíbrio mental ele precisou.

Quantos de nós passamos por casamentos estáveis, carreiras de sucesso, famílias saudáveis, capacidades intelectuais promissoras, ministérios consolidados, boas capacidades físicas. Nossas orações atendidas, nossa vida finalmente firmada.
Como amamos esta paz. E como nossas máscaras caem quando temos tudo isso. Afinal, para que compaixão se já tenho tudo o que quero? Para que essa luta para ajudar meu próximo, se tenho condições de encher o tanque e deixar meu próximo a uma praia de distância. Meu próximo que se dane...- declaro finalmente, do fundo de meu coração. E de repente: A queda.

Deus injusto! - grito eu.
Mas a história acima mostra-me um método, um ato de compaixão, uma estrada para a eternidade quando o Caminho nem havia sido edificado, apesar de preferir estar entre minhas bugigangas douradas.

Um abraço

Zé Luís

Comentários

  1. É... o Nabuco-bicho é nosso auto-retrato... retrato de quem, às vezes, tem que ficar no pó, de quatro - com o perdão da expressão - pra poder olhar pra cima, e ver direito de quem vem a virtude, a graça, o pão diário.
    Parece off-topic, mas não é: ontem assisti, ainda que tardiamente, o filme "Irmão Sol, Irmã Lua" do Franco Zefirelli. Conta a história da origem de Francisco de Assis, o cara que abdicou de sua rica herança familiar pra viver como pobre e ajudar os necessitados. O cara que deixou as bugigangas douradas por amor ao Cristo (ainda que o diretor demonstre isso subjetivamente). Muito legal a cena final quando o Chico de Assis vai a Roma e encara o Papa em seu templo suntuoso... nota 10.
    - Claudio

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