O Mico Nosso de Cada Dia: Você sabe quem você é?

Zé Luís


Em Minas Gerais, em uma de minhas várias viagens a serviço pela empresa, tive a oportunidade de conhecer uma cidade chamada Governador Valadares, famosa por ser o paraíso dos praticantes de Asa Delta, além de ser o maior "exportador" de brasileiros para os Estados Unidos. Tal êxodo causou um certo desequilíbrio entre os sexos: contam que a cidade tem 14 mulheres para cada homem.

Não sei se o dado estatístico está correto, mas nas ruas do centro da cidade se pode notar que a grande maioria é do sexo feminino, o que para muitos homens pode parecer um paraíso, mas para mim, diante do acontecido, passei a preferir que não existissem. Ainda mais quando descobri que a cidade tinham em sua fauna noturna, muitos morcegos - uma de minhas fobias infantis - voando a noite, entre as árvores do centro da cidade. Explico logo abaixo.

Todos os dias, nas duas semanas em que ali fiquei, eu e outro técnico,íamos para a nova loja que a empresa na qual trabalho inauguraria, sempre fazendo o mesmo percurso. Naquele horário, por volta das 9:00, as outras lojinhas e bazares ainda não tinham aberto suas portas; as funcionárias, na maiorias moças, aguardavam a abertura, sentadas a porta.

Meu colega de serviço, feio como eu, concordou que ali era um paraíso para nosso ego: por sermos minoria, como a lei de oferta e procura, mesmo feios, eramos observados pelas moças como "belezas aceitáveis". Até que aconteceu a tragédia:

Sai naquela manhã sem imaginar o que me sucederia. Quando estava no "geo-centro" do mulheril, algo desceu dos céus, e com pequenas garras, apertou meu ombro. Num gesto espontâneo, deixei uma menininha fluir de dentro deste homem de 1,80 e cabelos grisalhos, gritando fino e acenando com o braço esquerdo como uma miss, só que aceleradamente, enquanto rodopiava no meio da rua, feito uma baiana de escola de samba. A "coisa" voou de meu ombro, talvez mais assustada que eu, e pousou no orelhão, me encarando com o que parecia um sorriso maroto. Era um papagaio.

Com suor frio ainda na testa, percebi então que meu colega, assim como a rua inteira, gargalhavam da minha cara. Olhei para o telefone público, e ainda tive que aguentar o papagaio assoviar para mim, como num deboche. Respirei fundo ao encará-lo.
- Papagaio corno...- falei descontrolado, antes de voltar ao hotel, morto de vergonha. Desde o fatídico dia, não passei mais pela rua. Ainda ouço as gargalhadas das moças em meus pesadelos.

Dramalhões a parte, você ficaria surpreso com as reações que teria em momentos de tensão inesperada, abrupta. Se você pensa realmente que se conhece, você acabou de dar um passo para confirmar que não sabe mesmo. São em momentos intensos que revelamos o que vai em nossa alma. Em uma tragédia, num telefonema as 3 da manhã, numa descoberta decepcionante, ou mesmo em um papagaio safado que nos faz gritar como uma mocinha (gente: pensei que fosse um morcego, dá um desconto!) podemos descobrir alguém em nós que nem Jung deve ter estudado em seu "consciente coletivo".

Por isso, sempre me pego rindo quando vejo pregadores esbravejando certezas que não viveram, dando garantias que não tem, ensinando a escapar de paixões que são tão incapazes de escapar quanto aqueles a quem ensina, e tristemente, omitindo suas quedas mais vergonhosas no interesse de manter sua boa imagem publica.

Somos cristãos. Não precisamos de votos ou aprovação pública para se-lo. Tem gente que acha o contrário, mas se já tem esta experiência em sua vida, deve ter rido muito ao ter lido meu "tristemunho".

Comentários

  1. Hahahahahahaha morri!

    Um papagaio? Hahahahaha, coitado... Do papagaio é claro! Tem certeza que não acertou o bicho? E de onde ele surgiu? Devia estar procurando o capitão gancho.
    E eu queria muito ter visto isso!


    Leão

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  2. Isso me lembra quando, na minha adolescência (faz teeempo), estava passando numa praça no centro da cidade, quando vi o Paulinho, um vizinho lá da rua, sentado num banco e arrumando alguns objetos numa caixa de engraxate. Passei do lado e o peguei desprevenido, dando-lhe um tapaço na cabeça, e esbravejando um "Faaaala, Paulinho!"
    Ele levantou a cabeça, e não era o Paulinho.
    Foi quando surgiu algo inesperado de dentro de mim, uma capacidade que eu não conhecera até então: comecei a fingir que era retardado mental, e continuei a cruzar a praça, só que agora trançando as pernas, os braços e balbuciando "Faalaaa, Paulinho, faalaaa, Paulinho!"...
    Então, relaxa meu amigo: eu SEI como vc se sente.

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  3. uhauhauhauhauhauhauha...
    Já não me sinto sozinho em minhas presepadas...valeu, Claudião...

    Quanto a você, Leão, deixe... rindo das fobias alheias...rss

    Abraços a todos.

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  4. Já morei em Governador Valadares e fiquei imaginando vc por lá...
    kkkkkkkkkkkkkkkk
    Talvez tenha sido o calor infernal de lá, que fez algum efeito estranho na sua cabeça.
    rsrsrs
    Como pentencostal imaginei outra coisa quando vc disse:
    "algo desceu dos céus, e com pequenas garras, apertou meu ombro."
    kkkkkk
    Ah...Já dei muitos "fora". Até pensei em fazer um blog com o título:
    Os nossos FORAS de cada dia.
    Que tal? rsrsrs
    Abraço.

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  5. Olá Leilah.

    Até achava quente, até conhecer Cuiabá.
    Quanto ao mico, descobri que, além de carne e osso, também tenho minha porção geléia...

    Pior que o companheiro de serviço, acostumado com minas frequentes gozações, fez questão de espalhar o ocorrido prá todo mundo...

    Hoje lembro e rio. Fazer o que?

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  6. huahuahua, o texto me fez rir tanto que não pude deixar de comentar, mesmo antigo...medo de morcegos, hahaha...

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