Catafática, Apofática e o Feitiço de Áquila

Zé Luís

Dia destes, lembrei de um daqueles filmes de sessão da tarde que assisti umas trezentas vez: o Feitiço de Áquila, produção de 1985. A história é baseada numa lenda do século XII, quando um bispo feiticeiro de Áquila amaldiçoa um casal por ciúmes e inveja.

Se você ainda não viu, e pretende, deve parar de ler aqui, já que existe um segredo na trama. O tipo de encanto lançado: A magia transforma o homem em lobo a noite, e a moça – a jovem Michele Pfiffer – transforma-se em águia de dia, vivendo juntos, sem jamais se verem, sem nunca se tocarem como homem e mulher.

Considero uma boa ilustração para exemplificar a divisão entre os que congregam em igrejas tradicionais – chamadas históricas – e nas carismáticas – que aceitam manifestações estranhas à outra “banda”.

Pesquisando sobre tal divisão, descobri que nos primórdios do cristianismo isso já era objeto de estudo. Eram usados os estranhos termos gregos que traduzidos são Catafático e Apofático, que significam respectivamente “Positivo” e “Negativo”:

A grosso modo, Catafático era a visão lógica da existência: a forma cartesiana de enxergar que um mais um é sempre dois, as leis universais regendo a existência. Tudo podia ser entendido, medido, e repetido sistematicamente. Isto hoje é conhecido como Ciência. As primeiras universidades foram fundadas por religiosos a partir desta tese.

Apofático é justamente o oposto: aquilo que não pode ser entendido:
Você entende o significado de um versículo, mas não pode entender como a simples leitura faz você mudar o rumo de sua vida. Mudar de rumo é um conversão de caminho, e essa mudança não tem razão de ser. Ela acontece. Ponto.

Meu cunhado, exímio mergulhador, sabe cada detalhe sobre este esporte: como submergir, emergir, a pressão exercida no corpo de acordo com a profundidade, e quanto dura cada tipo de tubo de oxigênio. Isso é catafático. O que ele não explica quais os motivos que o levam a praticar esse esporte de forma apaixonada. Isso, sem explicação ou motivo lógico, é apofático.

Um culto batista é catafático; ele ensina a Palavra na forma da letra, mas a “inexplicável” manifestação do Espírito precisa acontecer, se não, não existe conversão legítima.

Um culto dito pentecostal é apofático: dons, fenômenos, manifestações ocorrem de forma inexplicável. Mas se faz necessário ser catafático, para que o culto não se transforme em simples idolatria, uma adoração sem razão de ser, apenas pelo momento da catarse espiritual proporcionada.

Assim como a bela história lendária de Áquila, precisamos remover o feitiço do bispo que habita na maioria dos cristãos.
Precisamos entender que Deus dá ao nosso entendimento, mas também pede de nossa fé.
Ele instrui a busca de um culto racional, mas permite que fenômenos inexplicáveis se manisfestem de forma aleatória, espontânea, irrepetíveis.

Uma boa noção pode ser ouvida através da mensagem do Pastor batista Ed René Kivitz. Ele trouxe o sermão em um congresso de uma Assembleia de Deus. Garanto uma noção muito mais clara do que a exposta acima.

Essa compreensão não significa ecumenismo. Significa diálogo e aproximação.

Comentários

  1. Gostei do artigo. Tem muita coisa boa por aqui. Tenho sempre dito: "Deus é soberano, Ele faz como lhe aprouve fazer".

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