Deus mandou ele ser corno
Zé Luís
Abandonada, machucada, constantemente agredida pelos bichos que habitam naquele lugar, ela agora ainda prefere o deserto do que estar entre aqueles que a desprezam.
Estes, que a agridem e enxotam como um praga na qual se envergonham, são os mesmo que ela poderia jurar que a amariam sempre. Quando digo amor, digo Eros. Ela, que um dia foi objeto de desejo e erotismo de tantos homens, e fez questão de ceder a cada apelo sexual, hoje é objeto de escárnio e de nojo por parte dos mesmos homens.
Sempre foi assim: dada a prostituições, se entregando às camas por qualquer motivo, sem imaginar nem em seus piores pesadelos que a pele se enruga, que as curvas se esvaem, que o apelo sexual perde o poder cedo ou tarde.
Não creio que a adúltera tenha entendido – assim como eu também não entendi – o porque de Deus ter colocado na alma de um dos seus profetas constituir família com ela(sabendo quem ela é), mas foi exatamente o que aconteceu. Deus em pessoa, disse com letras grandes:
“Vai e casa com aquela mulher que te trairá. Ela terá três filhos, filhos de adultério, e porás neles nomes de tragédias, que deixem bem claro que você foi traído”
Ela sai de casa, deixa os filhos para que o marido cuide e continua a se entregar aos homens, sem se dar conta que o tempo passou. O marido, que nunca a perde de vista, vê que ela começa a passar fome, e em secreto, deixa uma “cesta básica” para que ela tenha o que comer, mas a mulher, quando vê que deixaram-lhe a exata comida que tanto lhe agrada, prefere imaginar que aquilo é presente de seus antigos amantes. Sua vaidade faz crer que seu sexo é capaz de ser algo eterno na vida de alguém, sem lembrar que é o amor e a compaixão em seu ex-marido que a mantém alimentada.
Seus amantes começam a mostrar suas intenções, a presença daquela – então – prostituta é repulsiva, o que ela podia oferecer para matar-lhe a sede da carne já fora dado, e sem o amor necessário para manter laços, ela é escurraçada, humilhada.
Nasce em seu coração o desejo de ir até onde só existe chão. É onde começou nossa reflexão.
“Levarei-a ao deserto, e falarei a seu coração...” – planeja Deus, e cumpre naquela mulher que já não ostenta nenhuma beleza, vaidade, altivez.
Esta é a história de Gômer, mulher do Profeta Oséias, que pode ser conferida no velho testamento.
É uma das formas que Deus encontrou para explicar seu Amor e sua relação com seu povo. Sei que parece cruel quando um homem é submetido a tamanha humilhação diante a sua sociedade, só por cumprir a vontade do Mestre: cuidar de filhos de outros, cuidar de sua mulher, enquanto ela deseja transar com outros homens, de forma pública.
Mas esta é a indignação de Deus diante daqueles que são seus, mas comportam-se como ainda não o fossem. A indignação de um marido traído sistematicamente. Um homem que dá de tudo, e quem leva a fama são os que nunca puderam lhe agradar.
"Não foi pela mão do esposo, foi pelos belos dotes de seus seios que ela consegue seu alimento." - se vangloria Gômer, enquanto saboreia seus damascos.
O fim dos dias de Gômer não são bem definidos. Oséias a compra como escrava por quinze dinheiros, metade do que se pagava na época, e ela agora, vive como servente dos próprios filhos, e empregada do próprio ex-marido. Não fica claro se voltou a existir intimidade entre os dois. Este trecho não é revelado.
Todo juízo que Deus traz tem a intenção de fazermos voltar para casa, por que sua ira nada mais é que uma dor de quem foi traído sistematicamente por quem tanto ama.
Zé, que texto lindo! Admiro seu talento em tornar o Cristão Confuso tão rico e eclético. Esse é um Blog que leio sempre com a maior satisfação e recomendo aos meus amigos. Você faz a gente rir e ao mesmo tempo refletir sobre um pouco de tudo, com tanta seriedade. Quando fala de amor consegue ser ainda mais consistente. Quando eu crescer quero ser igual a você tá!
ResponderExcluirValeu pelos comentários no "Recortes", inseri o vídeo dos Thundercats em sua homenagem, também adorei as piadinhas do Twitter e vou copiar esse vídeo do "Vôzinho pregando", viu. Um abração!