Duelo ao nascer so sol

Vau do Jaboque, onde aconteceu a luta de Jacó

por Zé Luís

Se você quiser pintá-la, descreverei-a e quem sabe, me ajudará a mostrar o que vi naquela tarde abafada em São Bernardo, enquanto voltava do serviço, a pé, pela longa avenida que leva à casa onde morei.

Enquanto o congestionamento inundava o ar com a espessa fumaça dos escapamentos dos carros, a visão me invadia, contando de forma diferente, o que fora o evento no qual meditava.

O sol nascia em um descampado poeirento, se agigantava a frente, trazendo prematuramente o calor tão comum da região, revelando o que os homens e Deus passaram a madrugada preparando.

De um lado, a minha direita, vi enfileirados um pequeno exército preparado para o dia da vingança: Elegantes roupas de batalhas, camelos e cavalos, espadas reluzentes sedentas de sangue, e a frente do pelotão, um grande guerreiro, caçador forte e temido, desejado das fêmeas, temido por seus inimigos e amigos.

No outro extremo, a esquerda, um homem franzino mancando da perna, exausto pela fuga pela madrugada. Sujo de barro e de joelhos, clamando por misericórdia, esperando por sua própria morte violenta, consequência de suas ações passadas. Esperava morrer primeiro, depois suas mulheres e filhos enfileirados atrás, a distância e em fuga a mando dele, buscando um pouco mais de tempo de vida.(quem sabe algum sobrevivente?).

O quadro terá sentido se você conhecer a história dos eventos, pois ali está uma briga em família. O bravo caçador e o maltrapilho manco são irmãos, gêmeos, e príncipes.

Os dois tem nomes dados a partir da impressão que as parteiras tiveram quando saíram do ventre da mãe: O mais forte, Peludo, este é seu nome. O segundo ganhou um nome diferente: “O que pega pelo pé”. Foi assim que ele nasceu, agarrado ao calcanhar do irmão.

Muito aconteceu entre os filhos de Isaque, mas a atenção do escritor bíblico estava sobre o menor e suas trapalhadas e desventuras. Numa dessas trapaças que seu irmão Esaú (que ficou conhecido como Edom – vermelho – quando Jacó o convenceu a trocar sua herança mais preciosa por um prato de guisado desta cor). Não vacile com Jacó!

Jacó não era manco até aquela madrugada: na tentativa de fuga, atravessando um pequeno córrego barrento, um vau, conhecido por Jaboque. O vau do Jaboque significa o córrego da Luta. Enquanto atravessava sua família, enlameado até o pescoço, pensou ter visto em meio a escuridão da noite o que poderia ser um batedor do irmão que o perseguia. Imediatamente entrou em luta com o tal agente, e descobriu que aquele ser não estava ali para o perseguir ou mesmo o deter.

Como faz qualquer Jacó, ele pega o misterioso vigilante e não o deixa escapar. Este vê o dia se aproximar e solicita que seja libertado. Jacó tem uma condição:

“Você é mensageiro de Deus, já vi o acampamento de vocês. Preciso de um livramento, preciso ser abençoado...”

O anjo concorda, deixa-o manco e muda seu nome: O que triunfou com Deus, Israel.

O enganador Jacó passou a ser torto em sua perna, sua junta deslocada era a feliz marca de que triunfara em seu pedido com o Autor de constelações.

O desfecho do duelo: Esaú diante do então Israel , seu irmão, abraça-o e o beija, pede para conhecer os sobrinhos que teve com suas quatro mulheres, e revela que naquela madrugada, um anjo também apareceu, ordenando que não o tocasse.

Deus tinha um anjo para cada um em um só objetivo. A gravura poderia ter um outro significado então.

Talvez, ao invés de duelo ao nascer do sol, um abraço entre príncipes irmãos, após uma longa jornada onde houve perdão. Poderíamos tentar enxergar entre os raios alaranjados daquela manhã a penumbra dos anjos que trabalharam para aquele desfecho. Talvez ver as marcas já secas das lágrimas no rosto cansados das outrora assustadas crianças. Judá leva José no colo, Dã ainda acalma Diná, que ainda está amedrontada, agarrada a barra da saia de sua mãe.

Deus transformou aquele quadro de morte eminente em um bela gravura festiva que fala sobre um emocionante encontro de família, daqueles que acontecem no natal e que a gente se emociona sempre que lembra.

Comentários

  1. Muito bom esse texto.

    Interessante que tem a ver com o devocional que postei hoje: Conheço o seu passado e ele não importa.
    Tanto Jacó como Moisés, não tinham lá um passado legal...mas tudo muda quando Deus aparece a eles.

    Zé...não se esqueça nunca:
    “Você é mensageiro de Deus."
    Abraço e Deus te abençoe!

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