Onde os planejamentos parecem ter falhado

por Zé Luís

A alguns meses, como alguns já devem ter lido por aqui, frequento um hospital na região, junto com um pequeno grupo cristão. Lá, toco meu violão para gente em coma, pessoas que tiveram AVC, doenças graves, ou mesmo aquele que não tem família nem condições mentais de controlar suas necessidades mais básicas.

Ali, existem histórias fantásticas, resumidas em leitos que normalmente são para a morte. Para mim, a oportunidade de estar ali é quinzenal, e confesso que nem sempre é algo que me empolgo em fazer. Não há beleza nas pessoas, nem muita esperança para que eles voltem a vida que um dia tiveram.

Lá não há estatística válida: alguns tem religião, outros não. Uns são amados e lamentados por suas famílias, sempre presentes. Outros não tem nomes, nem falam, nem riem, nem são simpáticos ou agradáveis de se conviver. O dinheiro não faz diferença às portas do que estão para experimentar.

Sempre que vou, me esforço para deixar bem claro, para mim mesmo que eles estão e não são. Um dia, estiveram filosofando banalidades aprendidas pela TV, muitas vezes estiveram a frente de um fogão preparando o almoço do domingo, enquanto os filhos a aborreciam sobre o atraso do mesmo. Certamente, alguém chegou em casa bêbado, ou quem sabe, esteve com um microfone em mãos, pregando em sua congregação coisas importantes, ou não.

Andaram pendurados em ônibus e trens, choraram com a morte do Senna ou com a desclassificação do Brasil numa copa destas daí, desejaram outro homem ou mulher, e ficaram desempregados por algum tempo.

Quando casaram, fizeram votos de aliança eterna, frisando que era “até que a morte nos separe”, e planejaram tudo: a casa, as crianças, veriam os netos e a saúde, naqueles planos, sempre seria presente. Só não planejaram nada sobre a morte que os separe.

Um dia, os planos feitos não foram seguidos a risca. Não por incapacidade de uma ou outra parte, mas que a vida falta na vida, hora ou outra, e não há novidade nisso da parte de Deus: “Louco! Não sabes mas amanhã pedirão a tua alma!!!”.

Sempre que estou perto daquele pedaço da morte, meu pedaço de vida se dispõe a viver. Eles – os que morrem e definham sem que a medicina possa ajudar - por sua vez, se alegram com as cantorias desafinadas e os versículos que informam sobre o Deus que ama, salva, liberta e até cura. Sempre tenho a sensação inicial que não sou bem vindo, mas eles se acalmam quando pequenos corinhos são entoados, qualquer salmo é lido, e dez minutos depois, quando o mini-culto acaba naquele leito, eles se mostram ansiosos para saber se voltaremos na semana posterior.

As vezes, nós voltamos, mas eles já não estão mais nesta terra. A doença venceu, nos lembrando que os grilhões da morte ainda nos alcançam. Este será o último inimigo a ser vencido, e até nisso, vejo a Graça do Pai.

Todos irão se deparar com o fim, por melhores que se achem, por mais belos e inteligentes que sejam. Nesta hora, resta a fé de que Deus cuida de nós, e clamar para que a compreensão sobre estas coisas more em nossa alma, para quando o “dia mau” vier, estejamos preparados.

Comentários

  1. Tremendo o trabalho que voce está sendo feito! é algo a ser aprendido e vivenciado por todos nós, visto que a fé sem sem obras é morta! Que Deus o abençoe grandemente e esteja lhe dando muita força, unção e graça!

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do seu texto, Zé.
    Muitos de nós realmente precisam entrar em contato com a morte para valorizar a vida.
    Que você possa ter ânimo para continuar com esse trabalho tão essencial aos sem esperança.
    Ei, sua redação têm melhorado a cada dia... parabéns!
    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. É isso aí Zé,
    Gloria a Deus por sua vida.
    Acho que todos precisamos nos deparar com coisas do tipo de vez em quando.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Os 10 números mais significativos da bíblia

A batalha na"vida de inseto": o despertar.

Anunciação - Alceu Valença - uma canção sobre a 2ª vinda de Cristo?