Orando

- Senhor... Obrigado por me fazer-me ter uma mente mais esclarecida. Mas saiba, ó Pai, que me sinto como um dos remanescentes dos profetas que não se curvam a Baal, sinto-me só. como Elias em sua luta contra os maldosos, em minha caverna, sem saber que existem milhares separados...
- Você tá se achando o melhor, né?...
- Quem foi que falou? - assustou-se ele, interrompendo a oração.
- Ué... você estava orando a Quem?
- Mas...mas... como pode ser?
- Sou eu, oras. Tava meio sem paciência de ouvir essa sua oração. Você sempre a faz, e fica claro: não percebe que é a oração do fariseu em relação ao publicano...
- Como assim? Quem tá falando dentro da minha cabeça?
- Já falei... Será que você não percebe que quem separa os profetas sou Eu e não você? Como pode se comparar a Elias? Você ouve o que anda orando?
- Senhor? É você mesmo? Que coisa surreal!
- Surreal? Surreal é você orar sistematicamente e não reconhecer minha voz. Minhas ovelhas a conhecem... lembra do versículo?
- E como lembro! Senhor... Sou o único que não se rendeu a estas teologias de prosperidade e tantas outras modas...
- E por isso se acha melhor que os que se entregaram... Isso não é orgulho?
- Mas Pai! O que fazer contra isso que está aí?
- Você já deve ter entendido que nada disso me pega de surpresa, não é? Eu vejo o que acontece. No mais, se pretende continuar orando – o que não acho errado – se atenha a relação entre eu e você, certo?
- Ah, Deus! Não vejo a hora de compartilhar isso com meus irmãos essa experiência!
- Ih... Tenho uma péssima noticia: Você não lembrará de nada que foi conversado aqui... E é melhor que seja assim...
- Mas por que, Jesus! Como poderia esquecer?
- Você, na verdade, dormiu no meio da oração, quase roca agora... e sim: meu povo tende a esquecer coisas como mortos ressurretos e mares se abrindo. No mais, não é a primeira vez que conversamos. Você vive dormindo durante as orações...
- Então, ó Senhor, me diga: Por que é melhor que eu não lembre?
- Como te disse, a soberba é um dos pecados que mais me aborrecem. Normalmente, quando alguém acorda e se lembra destes encontros comigo, acaba se julgando algo maior do que realmente é: passam a acreditar que são melhores, maiores e inquestionáveis. Daí, essas comunidades com ideias estranhas: por se acharem especiais, qualquer bobagem que lhes vem a mente, vira revelação vinda do meu trono... muito chato... agora acorda, vai. O culto de oração tá quase no final...

O moço sentou-se na cadeira, e com um lenço, discretamente, limpou o filete de saliva que escorreu pela boca. Olhou no relógio e satisfeito, pensou:
- Que bom! Orei todo esse tempo e nem percebi o tempo passar... será que alguém percebeu que dormi?

O culto terminou, ele saiu com passo apressado : A TV transmitiria o jogo de seu time aquela noite. Nem lembrava com quem conversara naquela noite com o próprio Todo Poderoso.

Comentários

  1. Eita!

    Que texto mais... Não sei como definir... Faz a gente pensar. Tem uma graça que beira a desgraça e... Não sei o que pensar. Não sei.

    O texto é seu, Zé?

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  2. Eita!(kkkkkkk)

    Esqueci de assinar...

    É... "nonsense"?

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  3. Eita!

    Eu achei o máximo, Zé Luís.
    Ainda me surpreendo!

    P.S. Cabeçalho maneiro.

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  4. É Zé, eu gostei sim.

    Gostei deste texto despretensioso, mas que contém algumas (boas) verdades. Gosto do seu jeito franco que beira o cínico, mas que sempre nos fazem refletir. Num mar de informação inútil é sempre bom encontrar um pecador arrependido.

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