Crente diferente

Zé Luís

Santiago era seu nome.

O que sei deste pastor, co-fundador da igreja onde congrego, vi pelas filmagens, homem baixo, atarracado, típico nordestino barrigudo e sem pescoço, recolhido pelo Senhor através de um infarto. Também ouvi muitas histórias sobre suas aventuras como crente, coisa que contava durante suas pregações, e que a mocidade daquela época, hoje calvos e grisalhos cidadãos, repetem, alguns até emocionados.

Uma das mais conhecidas e repetidas é quando ele resolveu, quando garoto, ser um “crente diferente”. Não suportava a ideia desta divisão entre mundo-igreja, pelo que estudara da Palavra -ainda não era pastor, mas amava as Escrituras – não via problemas em estar com velhos amigos, sentados numa calçada num final de domingo a tarde, sem camisa, após uma partida de futebol disputada ali mesmo, entre os paralelepípedos que pavimentavam as vielas do bairro.

Já não andava com os engomados amigos da igreja, nem repreendia cada companheiro com um versículo quando os cervejeiros falavam um palavrão ou mexiam com a mocinha de pernas grossas que passava por ali. Todos gostavam dele, era convidado para os churrascos, mesmo se abstendo de tudo que era oferecido ali entre eles.

Foi numa tarde de domingo, quando os irmãos iam mais cedo para igreja(escola bíblica), com suas roupas sociais debaixo daquele sol. Ele iria depois, mas enquanto isso, se assentava com seus colegas numa mesa de bar, tomando coca-cola enquanto eles juntavam garrafas de cerveja vazia na mesa. Ele sorria por ser aceito, mesmo sendo crente:
- Você é muito legal, um crente diferente, Santiago... - disse um dos rapazes, sem camisa. A bebida já havia amolecido sua língua, enquanto apontava com o queixo para os irmãos da igreja.
- Como assim, diferente? - questionou o pastor, com o sorriso desmanchando no rosto.
- Ah... você nem parece crente, anda com a gente, aceita tudo que fazemos mesmo sabendo que estamos errados. Você é igual a nós...

Aquele dia algo dentro do finado pastor quebrou. Ele se levantou e foi para casa. Ele conta que se trancou em seu quarto e chorou, e chorou.

Ele entendeu que queria ser aceito em ambos os lados, mas não podia ser confundido com os que praticavam coisas vis. O Mestre o chamara com um propósito diferente, elevado, algo brilhante, límpido, nobre.

O problema não estava em andar com quem não se importava com Deus. A dor estava em ser contado com eles, até quando eles mesmos são conscientes de que estão errados.

Santiago teria que tomar a decisão de não compactuar com eles, mesmo que isso tornasse-o impopular entre os novos amigos. Na verdade, era só isso que seus amigos de bebida esperavam de um crente: que se mostrassem como divisor de águas, alguém capaz de renunciar a tudo, já que o próprio Deus o capacitaria a tanto.

Um homem sem Deus, quando O procura, buscará em pessoas que, em nome de Jesus, não se importam de não serem socialmente aceitos. Eles procuram vozes que clamam no deserto.

Se você é um crente "diferente", popular, bem vindo mesmo em ambientes onde o pecado rege, algo, meu irmão, anda muito esquisito.

Comentários

  1. Oi Zé!
    Essa descrição é para todos. Os que estão perdidos em suas mentes confusas e sem direção, ainda que ocupando os bancos das igrejas evangélicas.
    Pessoas divididas e ainda duvidando do seu próprio espírito propulsor da caminhada cristã.
    Teu texto evoca a necessidade de restauração e cura destes cansados e oprimidos que foram até o Mestre mas não aceitaram o fardo leve nem o jugo suave..

    Queira Deus que não sejamos incluidos nisso. Porém, caso aconteça, que retomemos a vida piedosa a tempo.

    Grande abraço, véi..

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  2. Nossa...não tinha lido esse texto ainda....remexendo o baú do CC achei!rsrs

    Dificil nossa vida, não? até q ponto devemos ser "crentes diferentes"?

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