Sobre o Perfume

por Zé Luís
Dia desses, no Recortes, seu editor, o desaparecido Éder, propôs que seus leitores postassem sugestões sobre bons livros. Gosto do que aparece nestas listas, e mais uma vez, fui beneficiado pelo que foi sugerido ali.
Não demorou, nas minhas andanças pelos sebos da cidade, para encontrar perdido, sussurrando meu nome, implorando para que eu o levasse: Perfume, de Patrick Süskind – Sugestão da Dra. Adriana, do Razão da Esperança.
Antes que você pergunte, sim: tem um filme com esse nome, e sim: é exatamente sobre esse livro. Também informo que não assisti o filme, e muito raro opiniões tão diametralmente inversas sobre uma película, mesmo nas críticas de sites especializados.
O livro é uma fábula para adultos, com imagens e situações bizarras, absurdas e perfeitamente possíveis. No cenário da pútrida Paris do século XVIII, um ser nasce com um dom, um de seus cinco sentidos é perfeito: o olfato. Nasce no meio do lixo, caindo largado entre fezes e peixe podre, filho de uma mãe que pensa ser ele mais um aborto, o quinto, embora tenha apenas vinte anos e nem saiba quem possa ser o pai.
Grenouille vem ao mundo assim, e vê a vida de uma forma única. O mundo é regido pelos cheiros, e ele sabe como usar isso. Não apenas os perfumes como conhecemos, mas aquele cio que nós não detectamos, mas que move nossas ações mais insensatas e irracionais.
A mente do aborto, feio, aleijado e rejeitado é dona de uma visão invejável, além de sua capacidade de resistir a morte, além de sua clara percepção do que seja a existência, os homens, deus, o amor, a moral e tudo que a tragédia chamada vida pode trazer.
O pequeno assassino serial nada mais é que um gênio abençoado e amaldiçoado pelo mesmo dom, você o odiará e o amará alternadamente, como se as essências que prepara fossem capaz de influenciar nossas opiniões.
O que o anti-herói tem em sua luta pessoal é a síntese do pavor que todos que se propõem a estar acima da mediocridade, e descobrir um mundo inteiro de seres que preferem esse trágico status de imbecilidade e mesquinhez.
Se você gosta de ler, a diversão é garantida. Mas uma dica: não conte para ninguém que está lendo-o: Estraga-prazeres farão questão de contar detalhes que estragarão as surpresas da história, incluindo as partes finais, tão inusitadas.
Bom saber que não sou apenas eu a perambular por sebos nessa terrível Sampa City!
ResponderExcluirBoa dica, Zé!