Uma história que não gostaria que fosse real

 por Zé Luís

-Mas não faça isso! Seu cabelo está bacana! - disse Joel, quando o adolescente voltou ao salão, olhar sombrio, inchados como os de que choram muito. Ele ordenava que o cabeleireiro passasse a máquina, deixando-o praticamente careca.

Fora o pai quem mandara. Quando ele chegou em casa e viu o corte moderninho do feliz garoto, que já fazia sucesso com os meninas da vizinhança, teve um ataque histérico ainda na calçada:

-O que você fez? Filho meu não anda com cabelinho assim não! - esbravejou o pai, ainda com o carro na porta da garagem.

O moço tentou argumentar, mas ele, o pai, estava irredutível. Que voltasse ao cabeleireiro no dia seguinte e raspasse a cabeça, se necessário. Não queria nunca mais ver aquela “palhaçada” na cabeça do moleque desajuizado, segundo ele. E não houveram mais argumentos.

Joel, o cabeleireiro que cumpriu a ordem de seu cliente deixando-o careca, disse que ainda naquele final de dia, ouviu-se os urros desesperados do pai quando voltou do trabalho. Nem lembrava de que o filho iria desfazer o “ofensivo” corte, mas quando guardou seu carro na grande garagem do sobradão, percebeu que o menino estava deitado, careca, no banco dianteiro de seu outro carro estacionado.

De olhos vidrados, estava roxo e frio. Se envenenara com o que chamam de “chumbinho”

Queria que esta narrativa fosse fictícia, mas não é. Queria que histórias como essa fossem incomuns, mas podemos ler algo parecido no livro “É proibido”, de Ricardo Gondim. Lá, a filha de um pastor, após dura e exagerada repreensão por ter cortado pontas de seu cabelo (o que foi interpretado como afronta e desrespeito ao seu ministério) ateou fogo ao próprio corpo.

Não cabe julgar se são atos de fraqueza ou desespero daquele que comete esse ato. Perceba: a tragédia se abateu numa família claramente cristã também. A religião parece não influenciar nos dias de tristeza. A pessoa quer se punir, ou mesmo, punir seu agressor.

Sempre lembro destas histórias. Principalmente nos dias em que me sinto impelido a falar poucas e boas para que eu acho que merece (como se o meu “achismo” fosse suficiente para me justificar ).

Tenho um medo mortal de ferir alguém que amo, na intenção de mostrar uma “boa lição para a vida”. Por mais que eu pense que tenho algo precioso para ensinar.

É uma história triste, mas que ela seja aprendida para que não se repita na vida de seus filhos, irmãos, amigos, amados em geral.

Que Deus me livre de ter essa culpa em minha alma, e que Ele alivie o fardo de quem a leva.

Comentários

  1. Até quando teremos pessoas q acham q estão acima do bem e do mal para decidirem o q é bom para os outros? E quando as pessoas poderão ser elas mesmas? Vestir, portar, agir, como quiserem? A intolerância é uma das piores armas do ser humano, pois enquanto julgam ao outro, esquecem q também podem ser julgados. Atire a primeira pedra!!!

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  2. Oi Zé!
    Sempre haverá uma forma branda, sábia e inteligente de se dialogar com um filho ou com alguém que se ama.
    Se a inteligência que julgamos ter de fato existe, o equilíbrio é uma virtude proporcionada por ela.
    Podemos fazer uso dessa ferramenta e comunicarmos verdades que não irão ferir, mas proteger. Afinal, é pra isso que vivemos (enquanto pais) não é:

    Abçs!

    Gildo

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  3. Oi Zé!
    Sempre haverá uma forma branda, sábia e inteligente de se dialogar com um filho ou com alguém que se ama.
    Se a inteligência que julgamos ter de fato existe, o equilíbrio é uma virtude proporcionada por ela.
    Podemos fazer uso dessa ferramenta e comunicarmos verdades que não irão ferir, mas proteger. Afinal, é pra isso que vivemos (enquanto pais) não é:

    Abçs!

    Gildo

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  4. É mano, eu acredito que tem outras formas de passar algum ensinamento que não seja através de repressão. O diálogo, creio eu, ainda pode ser usado como uma boa solução para isso.

    Abraço.

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  5. Eu sei o q é isso. #tristeconstatação... Graças a Deus tô de pé...
    Peço licença para reproduzir no blog, ok?
    repensandodiferente.blogspot.com

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  6. Olá querido amigo!

    Realmente isso é algo próximo e infelizmente possível. Se perder um filho por uma doença ou uma fatalidade já é algo incurável, se torna uma doença crônica com a qual se convive mas da qual não existe cura em vida, como você bem colocou imagine o fardo de alguém se sentir responsável pela morte de um filho.

    É algo que realmente não desejo para ninguém.

    Grato por compartilhar isto conosco, e é mais um motivo para que eu possa repensar como estou sendo como pai, além de ser mais uma variável na difícil tarefa de educar e definir limites aceitáveis para os filhos...

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  7. Minha filha de 20 anos, chegou meses atrás, com um pequeno piercing no nariz.
    Não briguei com ela, mas sinceramente, orei pra que infeccionasse e ela tirasse logo que piorasse.

    Contei a uma irmã que tem uma cara de "crentona" e ela simplesmente me disse:
    "_ Você tá preocupada é com o que os outros vão dizer de vc, como mãe, que está permitindo isso."

    Logo eu agindo assim. Logo eu que fui excluída 7 vezes, durante minha vida de Assembleiana, só por cortar a pontinha do meu cabelo.
    Graças a Deus, voltava no próximo mês de "reunião de membros".Lembram disso?
    Mas...Me vi com a mesma hipocrisia daqueles com os quais convivi.
    O conselho da irmã "crentona"?
    "_ Ame sua filha como ela é. Ela precisa de você e não os outros. Ela é a mesma filha. Do jeito que vc criou."

    Meu Deus! Minha filha está aqui e com o mesmo caráter, mesmo temperamento, mesmo temor do Senhor em seu coração.

    Obrigada Deus por ter falado comigo e o teu Espírito Santo ter me convencido.
    Snif! Aleluia!
    Ufa!

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  8. É lamentável que a vida de uma pessoa seja lida pelo corte do cabelo ou pelo tamanho do cabelo. Lamentável que o coração e as virtudes desse menino não foram levados em consideração em todo o tempo do relacionamento com o seu pai. Que seja esse texto um alerta
    a muitos que estão preocupados com o que os outros vão pensar!

    Indignado!
    Pr. Sebastião Cezar

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