A dor de Lucas e a Graça disso

por Zé Luís

Como ver os filhos evaporarem?
Basta que descubram que há uma quadra de futebol disponível no novo condomínio, e pronto. Somem...

Foi assim logo no primeiro dia, ainda durante a mudança, que dois de meus três filhos desapareceram. Fácil saber onde estavam: bastava ouvir, ao longe, os familiares berros “Passa a bola!”, “Fominha!”, “Olé!”, “seu grosso! Errou essa bola!”. Pobres condôminos...

Eram dez da manhã quando saíram para jogar, e eram cinco da tarde quando o caçula, de dez anos, voltou, chorando, cercado pelos amigos. Havia quebrado o braço (creio que se não tivesse acontecido isso, hoje, uma semana depois, ele ainda estaria lá, correndo atrás da bola).

Querendo acalmá-lo, demos água para o garoto, e levamos até o hospital: a fratura no osso do braço necessitava de cirurgia, e por causa da ingestão da água, devido a anestesia, a cirurgia teria que aguardar algumas horas, mas o pânico do Lucas era apenas esse:

“Vou ter que tomar injeção?”

Conheço o pavor dele por agulhas, mas ele se contorcia de dor pelo osso quase exposto, e se preocupava com a picadinha que trazia o anestésico, o remédio que aliviaria a dor. De outra forma, como fazer a cirurgia?

Não teve jeito: foi debaixo de choro e protestos que a enfermeira aplicou a agulha por onde entrariam os remédios necessários para todo o processo que ocorreria durante a madrugada. Também lamentou o jejum imposto – inclusive de água. Era uma imposição médica.

Após a cirurgia, onde ganhou um pino, demorou para acordar, mas assim que acordou, queria comer. O que tinha, naquela hora, era geléia, que por um milagre ele, que detesta, comeu tudo e enfiou os pacotinhos restantes na bolsa da mãe. Não entendia como algo podia ser tão gostoso. Era uma gentileza que a fome faz.

Eu, como pai, não me agradei de ver meu filho sendo furado, aberto, privado de comer e beber, ficar longe de casa, ter que amargar um gesso incômodo, as dores dos primeiros dias, o medicamento ministrado pelas madrugadas,  durante semanas.

Mas não há outra maneira.

Há situações em que só resta ao Pai permitir um tratamento mais “agressivo”(digo isso com temor e tremor).

Olhamos o mundo desabar a nossa volta, perdemos nossa paz e ganhamos dores. “Por que???”, clamamos com o punho em direção ao céu, questionando a súbita mudança de rumo em nossa existência."Não precisamos de mudanças tão dramáticas, eu era feliz e não sabia..."

Não creio que Deus fique gerando tragédias para nos dar lições de sua Ira. Creio que elas, as tragédias, aconteceriam, e que Deus permite que estejamos inseridas nelas, eventualmente (oras, não nos deparamos em todas, mas eventualmente, alguma pode nos alcançar, mesmo porque não conheço imortais neste mundo, e não há como deixar tudo certo antes da morte). Não imagino o Mestre, em desespero, puxando os cabelos, reclamando: “ E agora? O que farei nessa situação?”. Se um homem é capaz de perceber que não há nada de novo debaixo do sol, como Deus não saberia?

Meu filho ainda reclama do gesso, e quando viu o pino pela primeira vez, na troca da atadura, vomitou.

Já quebrei o braço, mais ou menos naquela idade e sei como é difícil.

O Mestre também passou por aqui, conheceu a dor e a maldade. Ele entende, tenha certeza.

Comentários

  1. PoiZÉ...

    Ler isso me leva à fase em que eu era uma super mega hiper mãezona que punha os filhotes debaixo da asa para que não se machucassem. Pura pretensão! Ou ingenuidade, excesso de zelo, sei lá, tudo isso junto rss

    Até que um dia tive que viajar sozinha e um colega do meu filho mais velho invadiu minha casa para bater nele por causa de uma garota he he (Quem manda ser lindo rss)

    Meu filho tinha 14 anos, acho que o coleguinha tb,mas como este estava raivoso parece que a força aumenta, daí não deu outra, meu filho apanhou feio em meio a uma platéia cruel da mesma idade que saía do colégio.

    Minha casa ficou apinhada de gente, as empregadas desesperadas, portões escancarados, menino saindo pelo ladrão, em cima do muro e tal... Até que um amigo ia passando e,afugentando a todos,ligou pra meu marido.

    Euzinha viajando, fui poupada habilidosamente, sabendo dias depois quando voltei, porém esse episódio me fez refletir sobre tanta coisa! Principalmente que, por mais que sejamos mães dominadoras, controladoras, centralizadoras, zelosas em excesso, não temos controle nenhum sobre determinadas coisas... (E euzinha nem era convertida a Jesus, embora sempre temente a Deus! Como diz o jargão, não era convertida, mas convencida rss)

    O irônico é que menos de um ano depois veio mais porrada ainda rss - resultado de uma separação super traumática que nos fez sofrer pra caramba! - e em extremo oposto tornei-me (quase) uma porraloka e uma mãe super mega hiper permissiva de 4 adolescentes.

    Enfim, é uma longa história, mas resumindo, é como diz você: só mesmo a GRAÇA, o Amor e a Misericórdia de Deus para nos fazer enxergar quem, de fato, tá no controle!

    De zelosa em excesso passei a descuidada, revoltada,sarcástica, meio pê da vida, mas eis que em dado momento de fundo de poço eu enxergo o meu Senhor e meu Redentor que, com Sua Soberania coloca-SE como equilíbrio entre esses dois extremos, instalando a SUA PAZ em nossos corações.
    A Ele, toda a Honra e toda a Glória!!!
    Abs,
    R.

    Sorry pelo aluguel do espaço, mas eu AMO falar desse Deus maravilhoso e do que Ele faz em nossas vidas :)

    Beijinhos no filhote!
    R.

    ResponderExcluir
  2. Oi Zé!
    Deus sabe sim. Ele sempre sabe...
    O que vejo é um Pai que me permite errar ao arriscar e me compreende arriscando, mas permite que eu pague com a consequência do meu êrro. Mas não sai de perto de mim, para me fazer aprender a não andar mais em caminhos perigosos onde certamente eu me depararia com os problemas que podem me trazer mais dor.
    Desejo sucesso na recuperação do guri!

    E que o Eterno seja sempre a tua inspiração em cada momento de tua vida..

    Abçs deste amigo!

    ResponderExcluir
  3. Oi Zé!
    Deus sabe sim. Ele sempre sabe...
    O que vejo é um Pai que me permite errar ao arriscar e me compreende arriscando, mas permite que eu pague com a consequência do meu êrro. Mas não sai de perto de mim, para me fazer aprender a não andar mais em caminhos perigosos onde certamente eu me depararia com os problemas que podem me trazer mais dor.
    Desejo sucesso na recuperação do guri!

    E que o Eterno seja sempre a tua inspiração em cada momento de tua vida..

    Abçs deste amigo!

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