Neemias: uma solução improvável

por Zé Luís

Quem poderia imaginar que ali estava o governador do estado, instituído pelo Rei?

Chegou em silêncio e assim perambulava entre os escombros da – um dia espetacular – Jerusalém, que agora mais parecia uma imensa e devastada favela, com os príncipes e filhos de príncipes andando em farrapos, miseráveis nobres sobreviventes se incumbindo de explorar outros príncipes, mais miseráveis que eles.

“Vim refazer os muros da cidade” – disse ele.

Uma casa sem portas é uma casa sem resistência a qualquer coisa que queira entrar. Um cidadão sob o domínio de Deus sabe que está protegido, mas não deve esquecer de colocar portas e trincos: não convém abusar do bem que o Pai oferece, mesmo sendo este mais que suficiente e eficiente.

Havia décadas que a cidade mantinha-se daquela forma, arrasada, como nos dias em que o domínio estrangeiro levou a população para viver em escravidão em terra distante. O povo começava a retornar e já eram suficientes para se reerguer, mas por algum motivo secreto e inteligível aos homens, permaneciam em sua miséria, como se ainda precisassem pagar por suas culpas.

Um único homem, a mais de 1500 quilômetros dali, sentiu uma profunda dor ao saber disso, e só fez orar, orar com profundeza, batendo às portas da sala do trono como se ele n~ao ficasse em Jerusalém, reconhecendo sua culpa naquela tragédia, e que não havia novidade alguma na miséria que lhes abatia: Deus nunca manteve a regra oculta de seu povo, de que os judeus precisavam viver pela Lei, e por ela viver ou morrer.

Isso foi no mês nono, e cinco meses depois, entristecido diante do rei, recebeu a resposta de sua oração: um homem que tem como ofício testar se o vinho do rei está envenenado, sempre esteve feliz diante de seu destino. Toda aquela melancolia era algo tocante demais.

A tristeza foi a ferramenta usada por Deus para mover o coração do rei, e aquele judeu, que vivia a mercê da sorte de encontrar o veneno na taça do rei, descartável, é feito líder de sua terra.

Talvez você pergunte: Por que este e não outro? Não haveria gente capacitada naquela terra, cheia de nobre e príncipes hebreus?

Os muros sempre estiveram lá, esperando para serem reerguidos, as pedras estiveram lá e a mão de obra também (foram os dali que reergueram tudo). Bastava a eles fazerem mas o grande mistério esta em: por que não fazemos?

Havia sobre Neemias a autoridade que movia até as ações dos reis e governadores, bastando para isto apenas ter no peito uma profunda vontade para reerguer as coisas do Reino.

Em 53 dias, o muro está de pé, apesar de tudo que se opõe contra ele e sua tarefa, apesar das estatísticas absurdamente contrárias, das elites que se formaram para manter a miséria sempre constante, das tramoias dos que odeiam – por medo da capacidade – o povo formado por Deus.

Neemias é uma improbabilidade, como todo ser que Deus resolve usar.

Cada ser convertido é um Neemias, cada vida reerguida, cada viciado recuperado, cada prostituição abandonada, o que não tem mais jeito precisa de um Neemias improvável e obstinado em fazer as coisas de Deus, nem que de forma rude, puxando cabelos e socando o que não presta.

O mistério de Deus está em converter coisas pequenas para que liderem aquilo que não precisaria de liderança, mas que simplesmente se mantém presas a amarrar invisíveis, sem fazer o que precisa ser feito.

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