Entre uma cruz e uma ressurreição
por Zé Luís
Sábado. O baque ainda é anestésico.
Não há ânimo para pensar em o que fazer daqui para frente, ainda mais quando todas as fichas estavam postas no que criam ser o legítimo dono da Vida. E esse, inexplicavelmente, foi assassinado.
Tudo estava bem na quarta-feira, quando chegaram a Jerusalém, e o povo, com ramos, saudou-o como se cressem que ali estava realmente o Messias. Celebravam dando “aleluias”. Era o mesmo povo que logo depois gritava “crucifica!”.
Fugidos, apavorados, os famosos discípulos se escondiam, trancafiados na mesma sala onde horas antes, a última janta fora servida entre os seus.
Não há assunto, e nem vontade para que isso surja: apenas olhos inchados, e em todos a sensação de serem apenas ratos, escondidos, aguardando a chegada dos soldados, os próximos a serem presos e executados.
Tudo é expectativa, tudo já não faz sentido.
Um deles talvez quisesse realmente que o mundo desabasse logo, já que a culpa de ter negado o Mestre amado não o abandona. Um deles, que o vendeu, não resistiu ao peso e se entregou a forca, que se rompeu entregando seu corpo para ser rompido nas pedras de um precipício em queda, morrendo sem honra, em vergonha e sem sentido de existência.
Mas eram só pensamentos agora. Fantasmas que entravam sem porta, assombrando, infernizando, anestesiando.
Eles nem mesmo se entreolhavam naquele misto de desesperança e tristeza.
Ontem morre a vida, e hoje isso ainda permanece, como as coisas tem que ser, amargar a frustração dos sonhos desfeitos pela violência tão natural nos homens, a certeza virar fumaça evanescente diante da realidade da força do estado, da inveja, da religião.
Eles eram nada, de novo, e todo sonho de grandeza escoava na escuridão daquele ambiente carregado de opressão.
Mas por que a esperança não se apagava de vez? Qual o sentido da chama não ter se estinguido diante de tamanha tragédia?
Respostas dadas numa madrugada improvável de domingo.
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