Serpente: um dia bela, um dia vil

por Zé Luís

Ela nem sempre foi asquerosa, repulsiva, fria, rastejante.

Quando satanás colocou seu plano em prática no Éden, escolheu bem seu elenco: Ele tinha uma meia verdade (o que nada mais é que uma mentira) e precisava de alguém que transmitisse segurança: uma boa imagem é bem dificil de resistir. Por isso, o portador da queda era o ser não-humano mais astuto que aquele paraíso oferecia.

Ela, a então bela serpente, sondou o terreno, não foi direto ao que recebera a instrução, mas na companheira dele:
-Você não pode comer do fruto-da-árvore-do-conhecimento-do-bem-e-do-mal?
-Nem comer, nem tocar (esse último foi por conta da primeira mulher, Deus não falou nada sobre tocar...).
-Por que?
-Simples: seremos aniquilados, uma tal de Morte nos alcançará... já ouviu falar dela?
-Ele não quer é que vocês, humanos, feitos a Sua imagem e semelhança, sejam como ele, portadores dos dois lados do conhecimento, saibam sobre o bem e o mal.

Ali, a queda se desenhou: não uma simples ingestão de algum fruto de nome enorme, que tinha um gosto bom, e que cumpria o que prometia. O problema estava também em alguém conseguir que Deus mentiu. O casal estava na presença Dele e era conhecido em seus passeios no fim de tarde.

Aceitar a mentira veio pela necessidade de ser maior, a ganância de querer atingir não apenas a imagem e semelhança, mas ser mais um deus, uma criatura recém-criada ambicionou ser da turma dos criadores dos universos, como se houvesse espaço na existência para um segundo Todo -poderoso.

Assim eles conheceram a morte: não através do sexo, ou da forma inapropriada com que praticavam sua higiene pessoal. Morreram por crer que Deus mentia.

Nada daquela deliciosa sensação inicial de imaginar-se capaz de saber lidar com qualquer situação inimaginável, de querer sentir brotar o poder que emana em todo Universo. Nada sobreviveu quando descobriram sua vergonhosa nudez de espírito morto.

Aquilo que um dia foi esplendoroso tornou-se símbolo de mal-estar, tristeza, derrota eminente e homérica. A bela serpente, agora réptil peçonhento, era símbolo de morte.

As quedas fazem isso: tudo naquele dia de “pratos na mesa” levará um gosto amargo na memória: mesmo o mais predileto dos pratos, o filme mais assistido, a música mais apreciada, a partir daquele dia, se usado no momento fatídico, fará parte do cenário mais doloroso de sua existência.

O mais astuto e belo é condenado por permitir ser usado para, o que será, a maior tragédia de todos os tempos e universos: o dia em que o homem começou a morrer, sem esperanças , vivendo em seus pequenos universos miseráveis, falidos, até que o bote salva-vida fosse lançado.

Sim. Aquela festa regada a todos os prazeres imagináveis e felicidade ilimitada por um curtíssimo espaço de tempo te trouxe até aqui, onde vivemos atolados em um destino trágico, líquido e certo, mas mesmo assim, permanecemos na arrogância de julgamo-nos ser suficientes, deuses em nosso mundinho

Você sabe que bote salva-vidas é esse?

Comentários

  1. Oi!Ótimo texto de alerta.O mal primeiramente sempre tem uma aparência de belo, nunca se apresenta como algo horrendo por isso que precisamos muito nos cuidar, vigiar.
    Tenha dias abençoados! Abraço!

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