Meu mito não é melhor que o seu, mas minha economia...


 Texto pertinente de Braulia Ribeiro

Vi um cartaz feito por alunos universitários defendendo o direito indígena de ter sua própria religião. O cartaz dizia:
Seu mito não é melhor que o meu.
(O estado laico vai proibir missionários em terras indígenas)
Simpatizo-me com estes estudantes. Crêem que as culturas indígenas devem ser preservadas, e crêem também como muitos no mundo acadêmico que o mal mais pernicioso que estas culturas indígenas enfrentam é o cristianismo. Dois erros crassos numa enxurrada de erros. O primeiro é pensar no índio como um animal em extinção ameaçado pelas mudanças.

Índio não é animal exótico e culturas não são estáticas, são fluídas, mutantes. Qualquer cultura humana está em mudança constante e inevitável. A cultura na qual minha avó viveu em Minas Gerais quando Belo Horizonte era uma cidade pequena, já não existe mais. Me dói pensar que não se faz mais pão de queijo em casa, broa de fubá, coxinha. Não se fala mais em virgindade antes do casamento, daqui a pouco não se falará mais de casamento. Não se conversa na sala de estar, não se conta histórias do passado. A cultura mudou a sociedade mudou.

Culturas indígenas são menores e talvez as implicações da perda de certos costumes são mais sérias. Perdem-se conhecimentos com a morte destas culturas e línguas que a humanidade jamais vai recuperar.

As mudanças inevitáveis não deveriam causar a obliteração de costumes importantes para a preservação da dignidade do povo, ou seu conhecimento secular. Um povo digno reage a mudanças se reconstruindo. Mas mudanças diversas acontecerão sempre. Se evitarmos todas as influências externas, todos os agentes estranhos à cultura indígena, ainda assim acontecerão mudanças sempre toda hora todo dia. Os seres humanos que detém a cultura mudam sempre, com ou sem influência externa.

O segundo erro presume que os agentes de mudança mais perniciosos são os missionários porque literalmente pregam a mudança. Certo? Errado. A cultura material é na verdade um fator mais importante para preservação do estilo de vida do que a religião.

A religião de um povo pode mudar, substituindo-se alhos por bugalhos, deuses por Deus. O estilo de vida, a necessidade da selva e seu conhecimento sobre ela não vai mudar a menos que se transforme suas demandas econômicas.

Mudamos a cultura se transportamos as famílias indígenas das casas tradicionais para casas de cimento, construídas em série por agentes externos. Se empregarmos indígenas como professores, caciques, motoristas. Se distribuirmos aposentadorias para garantir renda, permitindo a compra de álcool, comidas industrializadas, roupas, cigarros, e obrigando-os a constantes viagens para as cidades para receber. Se instalarmos TVs e antenas com satélite para que a aldeia assista novelas da Globo. Se comprarmos borracha que eles produzem, se garimparmos ouro, se compramos artesanato.

As mudanças econômicas transformam radicalmente as culturas indígenas. Ao que me consta quem causa esta mudança de maneira sistemática, constante, financiada por nossos impostos e por ONGs estrangeiras é a FUNAI, orgão que representa para os índios o governo federal.

Deuses? Sempre teremos conosco. Aliás um deus a mais outro a menos não faz mal a ninguém. Muitas culturas adotarão o Deus cristão como mais um espírito para seu panteão.

Se expulsarmos todos os missionários das áreas, ainda assim muitos indígenas se tornarão cristãos, através de igrejas nas cidades, programas de rádio, etc. Pior. Pela falta de missionários que contextualizam a mensagem eles imitarão o que vêem fora, construírão igrejas, cantarão hinos, vestirão terno. É inevitável. Do mesmo jeito que os jovens aprendem calypso e forró, também buscam novas propostas religiosas. É parte da natureza humana.

O Cristianismo comunicado de maneira clara e cuidadosa como fazem alguns missionários, e que inclui a tradução da Bíblia na língua nativa não trabalha contra valores culturais. Ela ajuda a preservar a dignidade e auto-respeito do povo, lhe conferindo um valor extra. No entanto confronta sim os costumes que prejudicam o povo. Porque culturas indígenas também tem pontos fracos, paradigmas de comportamento que prejudicam o povo e tem que ser mudados para o próprio bem daquela sociedade. Um exemplo é o infanticídio.

As culturas indígenas cristianizadas pelos missionários mudam seu conceito à respeito do valor da vida. Vida humana tem valor em si, e não apenas quando o ser é fisicamente e mentalmente capaz, ou socialmente aceitável. Por incrível que possa parecer aos anti-cristãos o Cristianismo ensina que o “bastardo”, filho do pecado nascido de uma mãe sem prestígio social tem tanto valor quanto o filho legítimo do chefe da tribo… O animismo permite as castas, a eliminação sistemática dos estigmatizados, a exclusão social. Presença missionária portanto preserva vida humana, e por consequência preserva cultura.

Se queremos ajudar mesmo estas culturas indígenas temos que lutar para que os missionários continuem presentes, e para que o governo se torne menos patrão e menos causador das mudanças econômicas que estão sim destruindo as tribos e seu estilo de vida.

E outra coisa, mas é assunto para outro post, função de estado laico não é proibir a expressão religiosa de ninguém.

Texto visto no Genizah. A autora do mesmo fala do que vive, não do que estudou. Creio que muito catedrático poderia pegar umas aulinhas com ela nessa matéria.

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