A amnésia do Zé Povinho

por Zé Luís

Não se sabe se é o carnaval ou o futebol que faz isso com o Zé Povinho – também muito conhecido como Zé Ruela. Esse esquecimento, ou a vontade de nunca ter sido alguém beneficiado pelo atual governo. Imagino que, talvez, a necessidade de parecer com aquele sujeito, filho de família que já tinha boas condições providas por sistemas anteriores, que mantinham os pobres sempre miseráveis, e os ricos com os recursos que podiam ser pagos por poucos, criando assim uma triagem natural.

Zé Povinho hoje procura andar de mãos dadas com os outros universitários, quer se enturmar, maritaqueia que tudo vai mal como os outros filhos aprenderam de seus pais ricos, enquanto passeiam pelos shopings, esquecendo-se que seus pais mesmo não puderam fazer faculdade – porque antes quase ninguém podia.

Ele, que tem uma TV de Led igualzinha ao que o seu chefe, celular com conexão Wifi, importa coisas da China e Estados Unidos, e usa boas roupas adquiridas no Shopping, diz que o Brasil piorou. O Zé. que tem um carro bom, finge que não vê a cara de reprovação dos tradicionais frequentadores das praias do litoral Norte, estes que se sentem injustiçados pela invasão de pessoas incompatíveis do seu meio social nas praias tão exclusivas outrora.

Zé Povinho não liga para isso: ele agora é um sujeito iterado com sua nova classe: se sente um igual, e como tal, nem lembra bem como eram as perspectivas que seus pais tinham para ele, apesar de tão pouco tempo passado.

O tal Zé Ruela gosta de andar lado a lado com gente que quer mais é que ele saia das faculdades e vá trabalhar para as indústrias do pai dele. O ídolo de Zé Povinho diz, debaixo do sorriso contemplativo do ex-pobre-pobre:

“Sempre tem vaga na faxina para esses nortistas, nordestinos, paranaenses, cariocas e mineiros em São Paulo, e sempre pode se permitir uma nova invasão para a formação de uma nova favela. Meu tio, que é vereador, disse que é fácil de se conseguir... nada de permitir que eles tenham condições de comprar seus próprios bens, terrenos, carros, essas coisas financiadas. Dar recurso a eles para que tenham com o que viver em seus estados? Nem pensar! E quem vai nos servir? Isso é comunismo, coisa de vermelho e como tal é pecado, comem criancinhas, não sabia?”(essa palavra “comunismo” tem um poder de persuasão maravilhoso.. risos)

E Zé Povinho bate palmas, e escreve cartazes com ortografia incorreta, e repete as palmas que o puxador de palmas ordena, o animador de torcidas bem remunerado e treinado que diz vir em nome de ninguém, mas em nome de um bem maior, pela nação e restabelecimento da ordem. “Bem” e “ordem” que ninguém sabe ao certo o que significa neste caso em específico.

Mas e daí? Zé Povinho foi aceito no meio dos que defendem que o Brasil era melhor antes, quando ele não tinha uma mínima esperança de um futuro digno, e tinham uma picareta ou um martelo guardado para ele, em alguma construção nova financiada por um banqueiro qualquer.

Zé Povinho: aprenda com o Sr. Zero-Cinco, André Mathias, policial fictício do filme Tropa de Elite, quando toda a sua classe estudantil condenava sua profissão.

Ponha-se em sua posição, lembrando-se que os motivos das pessoas, que podem parecer legítimos, muitas vezes só procuram atender suas necessidades mesquinhas. André fez questão de lembrar que o motivo da repressão policial sofrida pelos jovens que ali testemunhavam tinha relação com o porte ilícito de droga, e acreditavam que ali não estavam “fazendo nada de mal”: estavam apenas, com o seu consumo, fornecendo recursos para o crime organizado do tráfico.

Você, Zé Povinho, tem o direito de continuar de braços dados com aquele que veladamente te odeia porque você está sentado ao lado dele numa cadeira de faculdade - lugar que os pais dele ensinaram que era exclusividade das castas mais elevadas.

Você tem esse direito sim: Burrice - ainda - não é crime.

Mas se serve de consolo, caso essas suas reivindicações genéricas derem em alguma coisa: um dia você morrerá de vergonha desse papel que você anda se prestando, e quem sabe, não terá que dizer aos seus filhos que participou de um movimento de manipulação que trouxe a desgraça ao país, novamente.

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