Minha experiência em tirar o visto para os Estados Unidos

Ou se preferir: o lugar onde todo brasileiro, independente de quem você seja - ou tenha - para eles, é a mesma "coisa".

Fila para entrar no Consulado Americano de São Paulo
Eu, particularmente, adorei. 

Marquei a minha entrevista final - e da minha esposa - pela internet, após cadastrar todas as digitais e entregar os documentos necessários em uma entrevista anterior. Pela internet, paguei a taxa, respondi todo o questionário, em inglês, sobre minhas intenções, o que pretendia, o que ia fazer, onde ficaria, quanto tempo teria essa viagem, se tinha algum dependente que ficaria aqui, e se meu emprego aqui era fixo e estável. Era um visto do tipo "turista".

Tudo isso foi meticulosamente descrito, e "re-perguntado" quando passei pelo entrevistador. A viagem, que não duraria nem dez dias, foi um presente da minha irmã e meu cunhado americano, para que conhecêssemos o país, os novos parentes e participar do casamento deles em Phoenix, Arizona.

Tudo correu normalmente, mas a experiência no Consulado Americano, aqui em Santo Amaro, bairro da capital paulista, foi excelente. 

Fomos de carro e, ao chegarmos nas proximidades (fica há cinco minutos do Shopping Morumbi), já percebemos a disponibilidade de diversos estacionamentos, e dentro desses, pequenos armários com chaves, guarda-objetos, disponíveis para aluguel.
A fila que você vê na foto está na calçada e é para entrar no portão do Consulado. O horário agendado pelo site nem sempre é respeitado pelas pessoas que se cadastram, que procuram chegar mais cedo para tentar "furar a fila". Brasileirisses que os americanos reconhecem, mas que não funcionam com eles. Já explico.

Na calçada, funcionários dos estacionamentos alertam que não se pode entrar com celulares, ou nada metálico ou eletrônico. Claro: imaginamos que ele diz aquilo por exagero, querem apenas alugar seus guarda-objetos para aqueles que vieram sem carro. Mesmo assim, deixamos os celulares no carro, meio a contragosto.

Após enfrentar a fila da calçada, passamos pela primeira revista, quando o segurança abriu a bolsa de minha esposa e deu uma boa olhada. Viu ali um fone de ouvido do celular: tivemos que sair, e ir guardar o "artefato" lá fora, sem poder ficar e guardar o lugar. Sim: pegamos novamente a fila da calçada para entrar,e após nova revista, estávamos dentro da primeira fase da peregrinação.

Era uma especie de garajão coberto com telhas de fibrocimento. Quem frequenta parques de diversões -  como Hopi-Hari - já deve ter pego filas nesse estilo. Mesmo assim, é organizado. Oito filas batizadas com cores vão se enchendo e sendo atendidas pela ordem.

Ali entregamos os documentos e seguimos para outra fila, para aguardar a revista no detector de metais. É quando os seguranças passam e ordenam que os cintos devem ser retirados e que não poderá haver nada que represente uma arma nas bolsas e bolsos.


Nessa hora, pode-se enxergar olhares indignados em algumas pessoas(embora ninguém tenha se arriscado a protestar, que eu tenha visto). Eu e minha esposa não víamos nada demais: estamos acostumados a viver isso em nosso cotidiano, metrôs, ônibus, trens lotados. Aquilo era "fichinha". Mas muitos ali estavam "ultrajados" com o tratamento (palavra que a nobreza costuma usar quando se vê tratado como plebe).

- Vão entrar grupos de 4 em 4 para a revista - gritou um segurança mal-humorado. Pela divisão da fila, minha esposa entraria separado de mim, mas quando tentamos intercalar na fila, deixando uma pessoa passar a nossa frente, o mesmo segurança nos repreendeu aos berros na frente de todos: não era para trocar de lugar!

Um sujeito logo atrás, em um terno caro, percebendo a bronca que tomamos, voltou para seu lugar rapidinho, segurando as calças que, sem o cinto, ameaçavam desabar.Minha esposa foi para a revista, e minutos depois retornou. Dois seguranças estavam com ela e me chamaram para que eu a acompanhasse: no raio x, encontraram uma tesourinha dobrável, usada para aparar minhas sobrancelhas e evitar que ficam parecendo dois mandruvás. 

Tivemos que sair e voltar para a calçada, se livrar do famigerado instrumento armísticio. Claro: essa hora eu pensava em enforcar certa esposa. Por que ela insistiu em levar aquilo na bolsa? Acabei arrancando a bolsa dela, indo até o estacionamento, deixando no carro. Ela nada disse. Que bom.

Voltando: fila da calçada, fila da entrada, fila da revista e finalmente:

Estávamos na fila para sermos chamados à entrevista. Era um lugar coberto com as mesmas telhas, embora mais fechado e com um imenso ventilador. Um moço chamava pelos nomes com um megafone fanho. Ali já haviam varias pessoas sentadas há horas, mas não eram chamadas, já que o horário marcado para atendimento pelo site era bem mais tarde. Fomos chamados, recebemos os documentos e fomos para a ultima fila, a maior! Essa parecia  fila para entrada na montanha russa do Playcenter. 

Ali, podíamos ver varias cabines com os americanos atrás de painéis de vidro blindados, comunicando-se com os entrevistados através de auto-falantes nas paredes. Após alguns minutos, éramos postos diante dessas baias, e ali, de pé, entrevistados - em português. Uma moça a nossa frente teve o visto negado, e nunca soubemos porquê. Isso aumentou a expectativa e a angustia. E se desse errado?

O simpático homem falava um bom português e refez as perguntas já respondidas na internet.

- Bem vindo aos Estados Unidos, disse ele, em menos de cinco minutos de conversa. Era finda nossa saga. Dias depois, o passaporte chegaria em casa pelo serviço de correio deles.

Por que gostei? 

Pude ver como os mais abastados se sentiam quando tratados da mesma forma que os menos favorecidos são tratados todos os dias. Eles sabiam que ali não eram ninguém, e os seguranças pareciam se divertir tratando-os daquela forma. Era uma experiência única para mim e para eles, e confesso que maldosamente me diverti com o desespero no olhar daquelas pessoas, só por que tinham que enfrentar minutos do que boa parte do povo enfrenta todos os dias.

As vezes, vamos a certos lugares e, intimamente pensamos: mas que gente feia!

Mal sabem eles que lá, no paraíso de consumo americano, todos nós, cidadãos da América do Sul, somos essa gente feia. O voo de ida fez escala no México, e lá, durante o tempo que ficamos aguardando a conexão, pensavam que éramos americanos. Já nos Estados Unidos, todos pensavam que eramos mexicanos, inclusive os que tinham uma condição bem melhor que a gente.

Infelizmente, o que denunciava nossa nacionalidade, muitas vezes, era a falta de educação dos compatriotas, que não sabem nem aguardar para ser atendidos numa loja qualquer.

Comentários

  1. Gostei do texto!
    Vou tirar o meu amanhã!

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  2. Ninguém deveria ser tratado assim. Nem no consulado bem no metrô. Não se trata de impessoalidade, mas de desconfiança ostensiva e um pouco de obsessão com a segurança. Será que europeus e japoneses são tratados do mesmo jeito?

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  3. Espero que tenha dado tudo certo.

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  4. Pela pequena experiência que tive, o brasileiro que vai aos EUA é meio mal-educado (ou seria "folgado"?). Somos conhecidos por entrarmos numa loja, por exemplo, e interrompermos uma vendedora ocupada com um cliente para fazermos perguntas. Por isso os caras do consulado me pareciam irritados. A culpa é um pouco nossa, viu Jilbert.

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