Sobre as tatuagens pelo corpo que não tenho


Não.

Não tenho tatuagens. Não uso. E não é por ser cristão e por que existe esse versículo:
Não façam cortes no corpo por causa dos mortos nem tatuagens em vocês mesmos. Eu sou o Senhor ... (Levítico 19:28)
Se vamos seguir a Lei Mosaica, abandone o bacon e o presunto, que a mulher durma no chão durante os DEZ dias de sua menstruação, que ela não entre no ambiente enquanto os homens estiverem fazendo suas refeições, guardar sábados e cumprir os feriados judaicos (que podem chegar a um ano de duração em alguns casos) terá que ser cumprida na ÍNTEGRA. Eu sei: Jesus não aboliu a Lei, mas se vamos vivê-la como um judeu, que seja de forma integral, e não apenas aquela parte que os pais usam para fazer com que os filhos hajam conforme sua vontade (tenho vontade de dizer isso a meus filhos, que no momento junta dinheiro para fazer uma "clave de sol" no braço mas não seria honesto da minha parte).

Não. Não é porque evito a aparência do mundo na minha pele. Não acredito realmente nisso.

O que fazer com a pele quando - se Deus assim o permitir - chegar aos noventa anos e ela se encher naturalmente de rugas e a flacidez que o tempo traz? Ela foi preservada de agulhas, de furos e tintas. Não paguei ninguém para fazer um belo desenho nesse "corpitcho" que vive ganhando peso. Dependendo de onde e quando tivesse feito um desenho, uma simples carpa hoje poderia parecer um jabuti. A Palavra diz que Deus é Espirito. E que teremos um novo corpo incorruptível. Aquele deseinho feito no ombro incapacitará Deus de me transformar para eternidade? E as pessoas com almas horríveis? E com o espírito não vivificado pelo Espírito, mas com a pele tratada com leite de cabra? Esses vão? A aparência corpórea é realmente o que desabilita o trabalho de Deus na minha vida? E essa minha cara de cangaceiro? O que fazer com isso?

Não. Não creio que isso me desabilitaria a pregar o Evangelho.

A multiforme graça de Deus não cabe nem nas caixas teológicas mais elaboradas. Ed Renê Kivitz defende que se você conseguiu entender o Criador de uma forma plena dentro de sua compreensão, então esse seu deus nada mais que um ídolo minúsculo, que de tão pequeno cabe na cabeça de um ser humano como eu ou você. 

Invalidar um homem de falar do amor de Jesus é agir como um judeu que invalida a alma de um eunuco por ser um castrado, quando o Espírito Santo manda que um discípulo pregue para ele, tonando-o um possível evangelista na Etiópia (vide Atos). 

Certa vez, quando Jesus já tinha acendido aos céus, Pedro orava no terraço quando teve uma visão: um lençol descia com vários animais para serem comidos. Estes eram tidos como imundos para a dieta judia, e Pedro repudiou a ideia, dizendo que em sua boca coisas imundas não entravam:
"Não tenha por imundo o que eu purifiquei" - disse a voz na visão. Pedro ainda tinha um "pézinho" na Lei, embora alegasse viver pela Graça e pregasse isso aos novos convertidos (vide Atos).
Um dos mais populares casos da atualidade é o pastor Ariovaldo Junior, pessoa que por anos nutri
certa antipatia. Coisas de "pré-conceito" mesmo (curiosamente, passei boa parte da minha juventude como headbanger, vestido de preto e tentando inutilmente deixar meu cabelo pixaim crescer). Um dia, sugerido por uma blogueira que o conheceu pessoalmente, assisti uma entrevista com ele. Um cara tatuado (além dos braços, leva o brasão corintiano desenhado no peito branco), piercings, brincos, aparência agressiva, vocabulário chulo.

Ele contava sobre a experiência de evangelizar em uma das Expo-pornôs paulistas e, desavergonhadamente, falou sobre a triste experiência de ver corpos nus expostos como em um açougue. Quem apresentará Deus a esses a quem  - até alguns crentes -  consomem em vídeos de pornografia pela Internet? O Espírito não deu a mim essa ousadia. Eles se prostituem publicamente, mantendo relações sexuais a vista daqueles que passam em seus stands. Eles não merecem conhecer a Cristo? Quem pescará a alma desses humanos em suas luxurias financiadas por suas produtoras?

De certo, muitos que o condenam também não o tem a ousadia que Deus colocou naquele coração (e nem o estômago de aguentar tantas pedradas e desaforos). Ele passou desapercebido entre os que ali transitavam e aos prantos se aproximava e, na linguagem deles, falava de Jesus.

Não se culpe: nem todos possuem o mesmo chamado. Mas convém condenar àqueles que tem?

Não. Não acho desenhos sobre a pele uma coisa bonita. NA MINHA PELE.

Hoje, com quase meio século de vida nessa terra, tenho em meu corpo diversas marcas de sutura. Fui uma criança agitada, que cresceu indo para hospitais para dar pontos, passar por cirurgias, costurar braços, pernas, cabeça, entre outros locais que não convém contar aqui.

Uma das imagens mentais sobre uma dessas visitas a hospitais são de muito cedo. Talvez dois ou três anos de idade (sim: a memória emocional é algo maravilhoso, não acha?).

Eu iria passar por uma cirurgia para extrair um pequeno nódulo em meu braço esquerdo em um hospital nordestino lá dos idos de 1970. Lembro-me da criança "colorida" que chorava de dia e de noite. Ela tinha derrubado uma chaleira de água fervente sobre ela mesma, quando tentou pegar uma panela do fogão. Ela tinha a pele derretida. Alias, ela não tinha pele, e para minha cabeça de criança, ela era colorida e não deixava ninguém dormir naquele hospital. Eram queimaduras de terceiro grau.

Anos depois, ao ver tantas tatuagens com tintas escurecidas pelo tempo, lembro da criança colorida. A falsa impressão do que aconteceu com a pele do meu companheiro de leito me cause certa compaixão. Talvez por ter essa experiência emocional em minha existência eu não me sinta confortável em imaginar mais coisas perfurando, alargando, agredindo minha pele. Mas como disse: pessoal.

Mesmo assim, a juventude fica bem em alguns belos desenhos. Mas para mim, é como usar polainas. Eu sei: você nem sabe que "diabéisso". Coisa de tiozão... rs

Ficou a questão: 

Se marcas feitas pelo corpo desabilitam uma pessoa ao céu por fazer parecer com o "mundo", o que fazer com meu caso, que possuo mais de cinquenta pontos de sutura espalhados? Costumo dizer que são minhas tatuagens feitas por mim mesmo quando tinha três anos: desenhei amebas e ebolas. 

"Ah! Deus perdoa o tempo da ignorância!" - dirão alguns. Mas daí, outra pergunta: Quem me garante que todos ainda não a vivem ainda? Paulo diz que hoje vivemos em "parte". Parte da Verdade ainda é captada. Um dia veremos face a face.

Certa mulher, que viveu em tempos onde certa igreja pentecostal era mais rígida com as doutrinas, tinha um cabelo profundamente espesso e começou a ficar careca por conta do peso do mesmo, que era bem longo e motivo de orgulho de sua denominação. 

Ao ir ao médico, veio a pior das ordens: ela teria que diminuir o tamanho. O pastor ao ser notificado da necessidade, agiu com a sabedoria de um javali: "se for para cortar, que corte careca, pois o cabelo é o véu da mulher e blá. blá, blá..."

Ela se afastou da igreja, com seu cabelo cortado no estilo "joãzinho". O ministério que amava não podia mais ser frequentada pela mocinha que não tinha o cabelo para abonar sua santidade. Com isso, o marido, diácono e professor de escola bíblica, também se afastou, levando as três filhas para longe dos ensinamentos da igreja. Anos depois, a tal mulher teria um AVC, e segue em coma até a data de hoje. A mecha branca com pouco cabelo está lá. O pastor que fez isso? Sabe Deus para que lado do céu ele está. 

Hoje, achamos essa história VERÍDICA do cabelo um absurdo. Amanhã, não acharemos a historia da tatuagem assim?

De qualquer forma, se você curte tatuagens e vê que alguém é fraco na fé, se escandalizando com sua liberdade em Cristo, evite fazê-las por conta do amor a essas pessoas. Paulo recomenda isso com alimentação, quando alguns acreditavam ser consagradas a deuses. Tem quem acredite que existem outros deuses e que tocar nessas coisas os tornariam contaminados - como os judeus acreditavam que tocar em um samaritano os faria também. Se você acredita, e come, peca por trair suas crenças contra Deus.

Viver a liberdade dada por Cristo não é tarefa fácil para todos. Alguns preferem preservar fragmentos da Lei. Cuide bem desses até que cresçam.

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