Tempo completo de angústia

 por Zé Luís

Entre a morte violenta e a ressurreição gloriosa há uma lacuna chamada sábado.

O que poderia acontecer nesse intervalo que não fosse só angústia? Por um dia inteiro o Deus encarnado esteve no lugar comum em que todos estaremos: no fim.

Este lugar chamado morte, onde nosso corpo de desintegra da forma mais fétida e ingrata, nunca pareceu um lugar compatível para o homem-Deus que não merecia morrer. Qualquer um sente isso.

Mas aconteceu.

Gente que o amava chorava pelos cantos, planos de um futuro promissor se esvaiam como a mais cruel das ilusões: Quanto melhor o sonho, mais lamentamos o despertar. A angustia de ter visto o flagelo do único ser digno de ser adorado continuava gravado nas retinas, como se aquele sangue fosse diferente de tantos outros derramados em cruzes semelhantes. Ele era...

Não. Não houve palavras edificantes naquele dia. Nenhum consolo, nenhum alívio, nenhuma esperança: o mestre continuava como todos os que morrem.

Do grupo de fiéis seguidores, sobraram um bando de pessoas assustadas, escondidos a portas e janelas fechadas, na expectativa de que, a qualquer momento, chegaria o momento de serem igualmente mortos. Um deles se suicidara, outro amargava vergonhosamente saber que agiu da pior forma, embora o falecido Mestre sabia que assim agiria. Deus sabia, mas Pedro não. É sempre assim: muitas vezes não seremos capazes de admitir nossa mesquinha realidade, a ponto de garantir que Deus errou em seu veredito. Nossa fabilidade no campo onde mais nos sentirmos fortes é sempre a surpresa mais amarga.

Um dia completo de morte absoluta, um dia inteiro sem Jesus, e sem esperança de tê-lo novamente. Talvez você não entenda essa angustia. Talvez por nunca tê-lo ouvido realmente, e o simples fato de estar morto até este ponto da História ( não sse sabe ainda o que acontecerá na madrugada do domingo) faz toda a diferença do mundo.

Mas seus discípulos precisam provar deste cálice também. Se não, certamente o Mestre não o traria. Não há situações aleatórias em Cristo.

Comentários

  1. Sempre com uma visão bem apurada dos fatos. Feliz Páscoa meu amigo!

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  2. Belo e poético, além de profunda reflexão. Gostei.


    Leão.

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