Aqueles que todo o dinheiro do mundo não faz a menor diferença

por Zé Luís

Era a primeira vez que aquela mulher, crente sincera, participava com nosso minúsculo grupo de capelania. Fazia parte de outro que viera conhecer a forma que desenvolvíamos o nosso “trabalho”. Ela não aguentou, e desabou num copioso pranto diante da situação em que se propôs conhecer.

Como já pode ter lido por aqui, participo deste grupo – o que vem sendo um grande aprendizado – que visita a ala de doentes terminais de um hospital da região onde moro.

Não posso dizer que fico ansioso para que esse dia chegue e esteja entre os que estão morrendo. A maioria dos casos estão ali marcando os momentos finais de sua existência, embora só os familiares saibam disso.

Há vários meses que estamos nessa, e mesmo sem saber o diagnóstico dos que ali estão, já presenciamos a partida de muitos, além de vermos doenças degenerativas definharem muitos, sem que nossas orações, louvores e versículos pareçam fazer o mínimo efeito. Eles estão simplesmente estão morrendo, crendo – ou não – em Deus, sozinhos e abandonados, ou cerdado de familiares e amigos que, as vezes choram, outros já se tornaram indiferentes a dor alheia e a própria.

Não são raras as vezes que nos sentimos um estorvo inútil ao entrar nos leitos munidos de um violão, uma cantora e uma pregadora, todos amadores. Qual a diferença?

É quando um parente desaba diante do doente, justo aquele que mostrava indiferença diante da dor, ou quando uma enferma bem velhinha pede para que cantemos mais uma, aquela do “Padre Marcelo, a do Zaqueu”, e quando terminamos com aquele desafino, ela insiste para o neto que compre o CD de nossa banda. Que CD?

Um velhinho, sentado a beira de um leito, comenta ao ouvido de sua amada, em coma, que estão tocando aquela música de gostam tanto.

Um deles sempre nos acompanha, e por ter problemas de memória, temos que nos apresentar ao velhinho todas as vezes e permitir que ele cante conosco os hinos que tenta lembrar.

Dia desses, quando a pregadora entrou e eu, retraído, fiquei no corredor, às portas do quarto, ouvi o protesto de uma paciente: “onde está o violeiro? Esperamos quinze dias e ele resolve não tocar na nossa vez!”

Meu irmão: o que você faz é importante, por mais que este pensamento, muitas vezes proveniente do mais profundo inferno, de que tudo é inútil. Um eco de sua lágrima ou sorriso, das coisas que você tem de sobra, ficará em algum beco de alma, e será usado para refrigério de alguém.

Alguma história ou piada, um “causo”, um cãntico, um elogio, um bom humor, uma mostra de compreensão. Você não faz ideia do quanto isso pode fazer diferença na vida daqueles que todo o dinheiro do mundo não faz diferença.

Talvez você não foi feito para estar nestes lugares. Não se culpe: ninguém é. Deus nos fez para a vida, não para a morte. Mas é bom não esquecer que a Morte é o último inimigo a ser vencido, e ver o que ela anda aprontando é algo prudente.

“O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos, na casa da alegria.” Ec. 7.4

Comentários

  1. Capelania hospitalar e carcerária,
    é o "trabalho".
    Não remendado a todos, mas tenho para mim que todos poderiam conhecer e "experimentar", pois entramos em contato com nossa pequenez, além de sermos o canal que oferece beneficios distintos para familiares, enfermos e encarcerados.

    abraço

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  2. Nem todos foram ou estão preparados para estar nestes lugares... Cada um tem um chamado, a meu ver. Mas penso, que mesmo sendo dificil ministrar algo sobre essas vidas sem esperança, muitas vezes, é menor a dificuldade do que ver alguém que faz parte da sua vida estar sob mesmas condições.
    Que Deus abençõe aquilo que colocou em suas mãos. Eu mesmo, não conseguiria... não mais. Chamado diferente, eu acho.

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  3. Nossa, muito forte isso!
    É vísivel quando algo tem o "toque" de Deus né?

    Pura unção!
    Beijoo
    Maya

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