O real prejuízo que a pirataria causa: uma argumentação diferente

Os defensores mais ferrenhos da propriedade intelectual - tais como aqueles por trás da nova lei Stop Online Piracy (SOPA) e Protect IP Act (PIPA) - argumentam que a pirataria on-line é um grande problema que custa à economia dos EUA entre US $ 200 e $ 250 bilhões por ano, e é responsável pela perda de 750.000 empregos americanos.

Estes números parecem realmente trágicos. Uma perda de US $ 250 bilhões por ano representa quase 800 dólares para cada homem, mulher e criança nos Estados Unidos. E 750.000 postos de trabalho é duas vezes o número de pessoas empregadas em toda a indústria cinematográfica em 2010.

A boa notícia é que os números estão errados - como explica Juliano Sanches, do Instituto Cato. Em 2010, o Government Accountability Office divulgou um relatório indicando que estes números "não podem ser fundamentados ou rastreados até uma fonte de dados básica ou metodologia", que é a forma educada do governo falar que "estes números foram compostos a partir do nada."

Mais recentemente, uma estimativa mais modesta - $ 58 bilhões - foi feita pelo Institute for Policy Innovation (IPI). Mas essa estimativa do IPI, já que ambos Sanchez e jornalista de tecnologia Tim Lee apontaram, está repleto de problemas metodológicos, incluindo dupla e tripla contagem, que incham consideravelmente a estimativa de perdas com a pirataria.

Então, qual é o número real? Nós simplesmente não sabemos. E isso nos leva a uma segunda discusão: o problema não são os dados que deram origem às estimativas, mas seus reais efeitos econômicos. Há certamente muitas pessoas que fazem downloads de músicas e filmes sem pagar. É claro que, pelo menos em alguns casos, há a substituição de um produto legítimo por um pirata - por exemplo, uma pessoa que teria comprado um DVD de filme ao invés de baixá-lo de graça. Por outro lado há pessoas que baixam um filme ou música, mas jamais o teriam comprado de forma legal. Isto é especialmente verdadeiro se o consumidor vive em um país relativamente pobre, como a China (e Brasil), e é incapaz de pagar por filmes e música.

Devemos contar esta última categoria de downloads como "vendas perdidas"? Não, se formos honestos.

E há outra questão: mesmo nos casos em que a pirataria na Internet resulta em uma venda perdida, como é que essa venda perdida pode afetar o mercado de trabalho? Enquanto empregos podem ser perdidos na indústria do cinema ou música, eles podem estar sendo criados em outro. O dinheiro que um pirata não gastar com filmes e músicas é quase certo que será gasto em outro lugar. Digamos que seja gasto em skates - o mesmo dólar perdido pela Sony Pictures pode foi ganho pela Alien Workshop, uma empresa que fabrica skates.

Como Mark Twain escreveu uma vez, há três tipos de mentiras: mentiras, malditas mentiras e estatísticas. As estatísticas podem ser particularmente complicadas quando elas são usadas para avaliar os efeitos da pirataria na internet. Ao contrário de roubar um carro, copiar uma música não causa necessariamente uma perda tangível para alguém. Estimar a perda exige pressupostos sobre o que o mundo teria sido se a pirataria nunca tivesse acontecido - e, claro, os mais afetados tendem a assumir sempre o pior cenário.

Visto no Sitio do Júnior que traduziu da Freakonomics

Comentários

  1. Ainda assim, a pirataria é um crime, e pecado tbm, constituindo roubo.
    As perdas são reais, sim, pois está sendo desconsiderado o crédito de produçao artística de quem perde com a pirataria.
    É hipocrisia, na minha opinião, esse post. Aposto que a reação deste cara, ao ser assaltado na rua, é de raiva, então, porque (de certo modo) defender que se pratique um roubo.
    Realmente, foi falado certo, as partes que mais perdem são as que puxam mais. Os milhões de "consumidores" de produtos piratas vêem o lado mais trágico dessas leis.

    Rafael Paiva

    ResponderExcluir
  2. Interesante o post... realmente dá para se pintar um gato de onça!
    Ao contrário do que se pense, crime é tudo aquilo que o Estado diz que é, sem respeitar a posição ou opinião da sociedade.
    A exemplo do que digo está a prática de jogos de azar (loterias), sendo crime se realizado pelo cidadão, mas perfeitamente legal, moral e benéfico se praticado pelo Estado.
    E para coroar este autoritarismo que o Estado impõe, posso citar o crime de vadiagem, previsto no art 59 do nosso Código Penal, que estabelece que aquele que não tem ocupação nem renda é vadio.
    Absurdos a parte, comumente se vê pessoas confundindo crime com pecado.
    Como associar coisas distintas que tem natureza diversa, origem diversa e interesse diverso?
    Trata o pecado de um desagrado a Deus e o crime de um desagrado ao Estado.
    E se por acaso alguém disser que desobedecer a lei dos homens é o mesmo que desobedecer a Deus, estaremos então subordinando Deus às regras sujas e imundas do homem.
    Reprovar a pirataria e o consumo de produtos piratas denota a aplicação de um valor de respeito ao que pertence ao outro, porém, estabelecer que um ato pirata é roubo e pronto, é a mais pura ingenuidade possível.
    Observe o que Estado faz quando não quer pagar os "direitos de criação" por achar injusto o preço praticado: ele simplesmente "quebra" a patente e passa a produzir aquilo, como foi o caso dos medicamentos antiretrovirais para portadores de HIV.
    Não estaria então o Estado praticando pirataria?? Ou seria roubo???
    Este post nos ajuda a ter a visão um pouco mais profunda sobre o assunto e está de parabéns por isso!!
    A ingenuidade deve ocupar o lugar do silêncio ao invés de bradar como dona da razão.

    JACIR REIS

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Os 10 números mais significativos da bíblia

A batalha na"vida de inseto": o despertar.

Anunciação - Alceu Valença - uma canção sobre a 2ª vinda de Cristo?